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Vale fazer um curso universitário se as profissões vão desaparecer?



O título desse post é uma pergunta que ouço cada vez mais. Numa perspectiva de que tudo muda o tempo todo, será que vale a pena sentar num banco de universidade para se formar numa profissão que vai desaparecer ou se transformar nos próximos anos? As discussões quase sempre são inconclusivas.


Eu tenho um ponto de vista pessoal. A minha resposta é sim, um sonoro e grande sim! Mais do que nunca vale a pena estudar pois é uma condição de sobrevivência e desenvolvimento. O problema não é a resposta para essa pergunta, mas para aquelas que vem a seguir: Qual curso? Qual instituição? Quando fazer? Por que fazer? Com que duração? Vale a pena se enfiar em um curso de 4 ou 5 anos?


Tem alguma coisa errada no modelo educacional. No Brasil, ao terminar o ensino médio, por volta de 18 anos, o adolescente já tem que decidir que formação universitária vai ter, que em tese norteará a carreira dele para a vida inteira. Ou seja, numa idade ainda jovem, repleto de inseguranças e dúvidas, o adolescente tem que escolher que profissão seguir. E a coisa é ainda mais complicada. Por exemplo, se escolher engenharia, já tem que optar pela especialização, como engenharia civil, elétrica ou eletrônica.


Extrapolando o conceito, esse mesmo equívoco pode ser levado ao mundo do emprego. Por que entramos numa empresa com um carimbo de profissional de determinada área e carregamos esse carimbo quase como uma tatuagem? Se as profissões estão mudando aceleradamente, se as empresas também estão se transformando, será que a contratação de um profissional não deveria receber um peso muito maior no potencial e nas habilidades fundamentais do indivíduo, e não essencialmente no conhecimento técnico e no seu diploma de formação? Não é por acaso que conheço um enorme contingente de pessoas frustradas com o que fazem e que buscam desesperadamente por mudanças, tentando se livrar dos carimbos recebidos ao longo do tempo. Por isso que a professora e pesquisadora Sabine Righetti considera que, no futuro, não existirá mais o conceito de carreira, mas sim habilidades.


Num encontro recente, quando tive a chance de conversar com vários executivos de diversas empresas, com idades próximas à minha, todos contaram a mesma história dos filhos: eles estão em seus primeiros anos de trabalho, já mudaram de emprego várias vezes num curto espaço de tempo, todos ainda tentando entender qual carreira seguir apesar de formados, desejando empreender e trabalhar em áreas novas. Estabilidade é uma palavra que não existe no dicionário deles. Frustração e ansiedade são palavras bem comuns.


Gil Giardelli, no IT Forum Expo 2017, afirmou que no mundo apenas 27% dos graduados estão em carreiras relacionadas com seus diplomas. E complementou dizendo que 66% dos profissionais estão insatisfeitos e 15% odeiam seu trabalho. Ou seja, sabe aquele colega sentado numa mesa de trabalho ao seu lado? Muito provavelmente ele é um profissional frustrado, talvez você também.


Bia Granja, no evento “O Futuro das Profissões”, afirmou que estudos mostram que cerca de 85% das profissões que serão demandadas em 2030 ainda não existem. Fiquei curioso com esse dado e fui atrás da fonte. Está no excelente documento The Next Era of Human-Machine Partnerships”, da Dell Technologies. Vale a pena ler o documento porque ele simula um dia típico de profissionais no ano de 2030.


Luiz Rasquilha, CEO da Inova Consulting, vislumbra três categorias de profissionais no mercado de trabalho. A primeira são as profissões clássicas, como médico, advogado, engenheiro, cujos profissionais passarão a usar intensamente novas tecnologias potencializando seu conhecimento e atividade profissional. Ou seja, são indivíduos que estão diante de grandes transformações em suas profissões. A segunda categoria é das profissões tecnológicas, que são todas aquelas que trabalham com as novas tecnologias incipientes. Vivemos uma era de inovações tecnológicas, portanto teremos uma onda gigante de novas demandas profissionais por conta disso. E, na terceira e última categoria, estão as profissões emergentes, que são empregos que ainda não existem ou que tem poucos profissionais na área. Esse é um território imenso, ainda a ser descoberto, cujo caminho tem que ser construído individualmente por cada um de nós. E aí, qual é a sua categoria? Não se achou? Talvez você esteja na quarta categoria, a twilight zone, aquela categoria com profissões cujo futuro é indefinido.


Eu tentei fazer um exercício comigo mesmo. O que sou como profissional? Tenho algumas formações: técnico em eletrotécnica, engenharia elétrica e análise de sistemas. Depois fiz um MBA em marketing e comunicação. Nos meus anos de trabalho atuei como técnico eletricista, desenhista projetista, montador de equipamentos elétricos, vendedor, engenheiro, gerente de projetos, programador, analista de sistemas, consultor, fui dono de dois negócios próprios, especialista em soluções para o setor público, executivo de projeto, profissional de marketing, profissional de comunicação, professor, palestrante e outras coisas que talvez tenha esquecido. Portanto acho que a pergunta não deveria ser “o que sou como profissional”, mas “o que estou como profissional”. Isso vale para mim e para todos, simplesmente porque mudamos e nos adaptamos o tempo todo.


Portanto, aqui é hora das próximas perguntas do milhão: O que eu pretendo ser no futuro? Num futuro de curto, médio e longo prazo. E o que farei para construir intencionalmente esse futuro e não ficar sentado esperando? Perguntas simples, mas de difíceis respostas e com alta dose de ambiguidade.


Eu sinto muito. Esse não é um post de respostas, mas apenas de perguntas. São muitas perguntas ao longo do texto. Elas valem para todos nós que vivemos na atual sociedade. A boa notícia é que esse um tema muito discutido, existe uma vastidão de material disponível na web para nossa reflexão e muitos pontos de vista diferentes, o que é muito saudável porque mostra que não existem respostas óbvias. A gente tem que se instruir, se armar do máximo de informações para construir um caminho próprio a perseguir.


Não adianta achar que um textinho de três parágrafos na web ou um videozinho de youtuber vão responder suas perguntas. Infelizmente as pessoas procuram receitas fáceis para questões complexas, talvez sinal da falta de tempo e do mundo efêmero que vivemos. Vejo as pessoas ansiosas com perguntas, mas sem investir tempo e atenção para estudar, conhecer, se abrir para pessoas que pensam diferente e refletir.


Para entender esse tema, eu procuro ouvir dois tipos de fontes. A primeira fonte é de organizações e estudiosos do assunto. Esse pessoal tem uma bússola nas mãos, consegue dar ideia para onde estamos indo, tem uma visão global e estruturada, apresenta estudos de mercado, dá números, projeta cenários e nos ajuda a entender o contexto. Criar um cenário é fundamental para entender o que está se passando. Existem muitas fontes com conteúdo riquíssimo.


Aqui vou dar dois materiais de estudo. O paper de 95 páginas (um livro!!!) chamado “Gente, Digital – A grande transformação digital e seus impactos, para as pessoas, nos negócios”, do professor Silvio Meira e da Muchmore, é extraordinário. Ele mostra o impacto do mundo digital em nossas vidas e profissões. É uma leitura obrigatória!


Se você preferir um vídeo, separe 50 minutos para assistir o vídeo “O futuro das profissões“, do mesmo professor Silvio Meira. Esse foi um episódio do Café Filosófico da CPFL. É uma conversa excepcional sobre o futuro das profissões. Ele nos coloca, como expectadores, no centro da conversa. É muito bom. Recomendo !!


Minha segunda fonte é seguir as pessoas que estão fazendo acontecer, colocando a mão na massa, vivendo a transformação de alguma forma e se predispondo a compartilhar as suas experiências, seja quebrando a cara ou fazendo as coisas certas. Aqui não é teoria e nem visão de mercado, é mão suja de graxa mesmo. Gente que bate cabeça, sai atordoado, dá a volta por cima, ajusta a bússola e vai pra frente. Aqui tenho outra dica.


No evento “As profissões do futuro” do IBM School 2017, ocorreu um painel muito legal sobre o tema. Foram 60 minutos de muito debate com múltiplas visões diferentes, com Bia Granja, Murilo Gun, Sabine Righetti, Luis Rasquilha e Luis Liguori. Essas são pessoas que estão no cockpit da transformação, fazendo ela acontecer na vida real.

A minha geração, a baby boomer, se preocupava muito em se formar e se empregar o mais cedo possível, para “ganhar dinheiro”, começar uma carreira, ter estabilidade e deixar a casa dos pais. Ou seja, a nossa pressa era entrar na primeira porta que surgisse, tomar um caminho… qualquer caminho, o importante era ser rápido. A realidade é que haviam poucas portas no passado.


A atual geração tem uma dor interior muito mais profunda e nobre: qual caminho a seguir? É uma geração que procura indefinidamente a sua porta, diante de um mundo repleto delas.


E aí? Qual é a sua porta?




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