Vejam a seleção de Dunga. Uma seleção fechada, carrancuda que nem o chefe, de treinos escondidos, proibida de falar com a imprensa e sempre evitando a torcida. Um Dunga que quase não deu folga aos jogadores, sempre enclausurados e controlados. Um Dunga de pouco sorrisos, de grosserias e palavrões. Um chefe que implementou um esquema de caserna desde que chegou na África, no dia 27 de maio. Ele sempre disse que aquele era um grupo fechado, mas que nunca realmente nos transmitiu a imagem de um grupo espontâneo e genuíno. Ao longo das duas últimas semanas, mais do que nunca, Dunga demonstrou falta de estabilidade emocional. Soltava palavrões durante os jogos, xingava jornalistas nas poucas coletivas em que era obrigado a participar, sempre tenso e fechado. O clímax de toda história foi a derrota de 2 a 1 para Holanda, quando o time brasileiro mostrou falta de equilíbrio emocional para superar a adversidade. Dunga saiu de campo bufando e dando as costas para a equipe que liderou. O Brasil saiu da Copa nas quartas de final, num jogo que mostrou incapacidade de reação.
Vejam a seleção de Maradona. Antes da Copa, na conturbada classificação da Argentina, Maradona entrou em pé de guerra com a imprensa. Até 3 de junho nenhum jogador e nem o técnico deram entrevistas. Os treinos foram fechados no centro de treinamento da Universidade de Pretória, sede da seleção de Maradona na Copa. Por outro lado, os liderados de Maradona foram tratados a pão de ló. Sexo, vinho e churrasco estavam liberados na concentração de Maradona. Sem abuso, mas liberado. A visita de familiares foi permitida durante todo o tempo da competição. Haviam muitos mimos para os jogadores, como videogame nos quartos e sorvete disponível 24 horas por dia. A partir de 3 de junho a imprensa passou a ter acesso à seleção argentina, porém ainda de forma limitada. Apareceu um Maradona de fartos e generosos sorrisos, as vezes até um pouco irônico. Às vésperas da estreia da Copa, durante um treino, num momento de descontração, Maradona acendeu um charuto à beira do gramado. Sempre demonstrando muito afeto na relação com seus comandados, era comum vê-lo beijando e abraçando os jogadores nos mais variados momentos. Um grupo espontâneo, que demonstrava confiança, e até um pouco de arrogância. Esta história acabou na derrota de 4 a 0 para a Alemanha. Maradona entrou em campo e beijou carinhosamente cada um dos comandados. A Argentina saiu da Copa nas quartas de final, num jogo que mostrou incapacidade de reação.
Dunga, líder de um grupo enclausurado, tenso, desconfortável, de poucos sorrisos, submetido a um modelo quase militar de trabalho e supostamente muito concentrado. Maradona, líder de um grupo espontâneo, confortável, de exagerados sorrisos, submetido a um regime de trabalho com muitas liberdades e supostamente relaxado.
Dunga e Maradona, egos maiores dos que as suas próprias seleções.
Dunga e Maradona, Brasil e Argentina, dois extremos na Copa, ambos saindo nas quartas de final. Eu me atrevo a levar o cenário acima para o mundo corporativo, onde empresas fechadas e carrancudas e empresas extremamente abertas e descontroladas correm o risco de irem para o mesmo lugar. São empresas que no mundo competitivo moderno dificilmente passarão das quartas de final, nunca ganharão a Copa e nunca ocuparão um lugar de destaque. Acho que a comparação é muito válida.
Apesar dos extremos, ironicamente, Dunga e Maradona tinham algo em comum: ambos assumiram o posto de treinadores da seleção de seus países sem jamais terem treinado um time de futebol antes.
Pra terminar, vejam a coincidência infeliz. Se pensarmos só na nossa seleção brasileira, o oba-oba canarinho de 2006 e a caserna verde-amarela de 2010 terminaram do mesmo jeito: nas quartas de final.