Um dia especial em minha vida. Ontem aconteceu um evento para celebrar o centenário da IBM no Brasil. Foi no Centro de Serviços da IBM em Hortolândia, no interior de São Paulo, com a presença de milhares de pessoas, entre funcionários e familiares, e com muitas atividades legais, mas teve uma que me tocou muito. Foi um painel com uma conversa entre um ex-presidente e o atual presidente da IBM Brasil, que representou uma viagem de história, emoção, orgulho e surpresa.
Rudolf Hohn foi presidente da IBM Brasil de 1986 a 1997, tendo trabalhado na companhia por mais de 30 anos. Começou como estagiário em 1966. Apesar do nome germânico, ele gosta de ser chamado de Rodolfo, é brasileiro da gema, torcedor ferrenho do Botafogo e morador do Rio de Janeiro.
Marcelo Porto, atual presidente da IBM desde 2015. Ele entrou na empresa em 1987, portanto fez 30 anos de trajetória nesse ano. É paulista, viveu anos no Amapá, tem o Rio no coração e torce pelo Flamengo.
Rudolf foi presidente da companhia numa época que existia a reserva de mercado da informática, onde o país sonhava com a “soberania” na área de tecnologia de informação, não existia liberdade de mercado, tudo era controlado, inclusive os preços. O ambiente era altamente hostil para a atuação da IBM no país, que foi obrigada a rever seu modelo de negócios, estratégia e forma de atuação para transformar esse período de um momento difícil para uma oportunidade única de negócios. Apesar de tudo, esse foi um período de crescimento saudável para IBM no país.
Porto comanda a companhia nos dias atuais, onde a concorrência alcança um nível máximo, sem precedentes na história, com liberdade total de mercado, vivendo uma tremenda pressão nos preços e uma brutal transformação no modelo de negócios de todas as organizações, inclusive a própria IBM. Em toda a sua história a companhia nunca teve um portfolio de produtos e serviços tão extenso e tão complexo como nos dias de hoje. Tudo isso no ano de 2017, ano em que a IBM completa 100 anos de atuação no Brasil, tendo uma história intimamente conectada com o progresso do país e um registro incrível de auto-transformação.
Rudolf comandava a IBM numa época onde reinavam os mainframes, mas também numa fase em que surgia o PC – Personal Computer -, a Internet ainda aparecia tímida diante da sociedade, com mais promessas do que entrega real, e os primeiros celulares chegavam ainda silenciosos na sociedade brasileira, tamanha a precariedade das telecomunicações no país. Porém, tudo isso sinalizava que estávamos diante de uma transformação tecnológica brutal na forma como vivíamos. Rudolf iniciou a dura e dolorosa transformação da IBM de uma empresa de máquinas para uma empresa de serviços, que foi uma jornada longa e que exigiu decisões difíceis.
Porto comanda hoje uma empresa com uma plataforma centrada em nuvem. E essa nuvem só existe por conta da onipresença da internet em nossa vidas. Ele tem sob sua liderança uma empresa várias vezes maior do que na época de Rudolf, totalmente rejuvenescida em formação, conhecimento, habilidades e objetivos. Nos últimos anos vem implementando um projeto radical de inovação e revisão do modelo de negócio da companhia, centrando esforços no desenvolvimento e oferta de soluções cognitivas, inteligência artificial, eficiência operacional, transformação digital e infraestrutura tecnológica para os clientes. Esse tsunami de transformação carrega por trás um trabalho imenso de adoção de novas metodologias de trabalho, ferramentas, bem com a introdução de novos conhecimentos e novas tecnologias, representando na prática o desenvolvimento de uma nova força de trabalho. Não lembro de um desafio tão grande como esse ao longo de toda a história da IBM. Tudo isso com o mundo em profunda ebulição.
Rudolf liderava uma organização de terno e gravata.
Porto lidera uma organização de bermuda.
A conversa entre os dois executivos oscilou por esses dois mundos, aparentemente diferentes e distantes, mas ambos unidos por um propósito de inovação, transformação, progresso e, principalmente, pioneirismo. Curiosamente, essa última palavra não foi citada em nenhum momento da conversa, mas foi ela que ficou martelando na minha cabeça: pioneirismo. Ambos falaram o tempo todo em mudar as coisas, em criar coisas novas, de tomar riscos e inovar. Ambos falaram muito de pessoas, de que tudo começa e termina através das pessoas. Rudolf falou várias vezes de “amor à camisa”, que para mim é um jeito diferente de falar de comprometimento e cumplicidade.
Foi muito emocionante ver dois líderes com décadas de diferença, porém tão parecidos em sua essência, em seus valores, conceitos e crenças. É nessas horas que entendemos como se constrói uma sólida cultura corporativa, moldada ao longo de 100 anos, com fundamentos fortes, sonhos e aspirações.
O painel terminou e meu espírito estava leve. Feliz por ter sido um dos arquitetos daquele encontro. Também feliz pela oportunidade de ter tido a chance de conversar com Rudolf ao longo de algumas horas, além do painel. Ele não sabia, mas por dentro eu pulava de alegria por aquele momento mágico e único. Feliz pelo Marcelo Porto comandar a companhia no país e representar ali, na frente de milhares de pessoas, o que nós somos de verdade.
Em algum momento, ao olhar os dois no palco, tive a impressão de que eles eram um só, apenas separados pelo tempo, mas com um sonho comum.
Tão distantes, mas unidos pelo propósito.