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Transição de carreira: a coragem de mudar



Nas mentorias que participo, o tema “TRANSIÇÃO DE CARREIRA” vem ganhando cada vez mais relevância. Esse assunto sempre surge na pauta. Alguns motivos são evidentes, como a mudança das profissões, um novo perfil comportamental das gerações (especialmente das gerações mais novas) e um mercado de trabalho muito mais dinâmico e global. Tudo isso provoca UM NOVO OLHAR SOBRE CARREIRA, conceito de trabalho, realização, alcance e perspectivas profissionais.


O fato é que “transição de carreira” não tem por base somente a oportunidade de trabalhar em áreas diferentes, ter uma remuneração melhor e obter crescimento profissional. No mundo atual, progredir ou mudar de carreira carrega tons de SOBREVIVÊNCIA em um mundo em que novas profissões estão surgindo, ao mesmo tempo que profissões tradicionais estão se transformando e até desaparecendo. Ou seja, avaliar e reavaliar a carreira, em um loop sem fim, considerar a busca de novos caminhos, tudo isso está na agenda de todos porque virou uma necessidade constante.


Não existem fórmulas, listinhas de dicas ou receitas simples que possam ser facilmente apresentadas e implementadas como um caminho garantido de sucesso. Uma transição de carreira envolve um número enorme de elementos, muitos de cunho de pessoal, que transforma qualquer processo em algo ÚNICO E PESSOAL.


Neste contexto, o melhor mesmo é conversar com amigos, colegas e mentores. Vale a pena ouvir histórias e experiências de pessoas que já passaram por isso, para observar aprendizados, gerar insights e possíveis alternativas. Também vale a pena conversar com pessoas jovens, em início de carreira profissional, para conhecer seus pontos de vista sobre a vida, filosofia do que é trabalho e carreira profissional, e especular uma visão de futuro. Ou seja, aplicar a DIVERSIDADE para falar de “transição de carreira” me parece fundamental, afinal, o que funcionava antigamente nem sempre funciona hoje, e o que vai funcionar amanhã, ninguém sabe muito bem.


Com tudo isso em mãos, então você estará (um pouco mais) mais capacitado para criar o seu próprio PLANO DE TRANSIÇÃO, montar cenários e tomar iniciativas. Este é o caminho que acredito, com chances reais de dar certo, apesar de ser árduo, lento e repleto de alternativas.


Eu tenho as minhas próprias experiências pessoais, que compartilho a seguir, com minhas leituras e aprendizados. Além disso, também apresento detalhadamente um exemplo de transição de carreira, que está ocorrendo neste momento, de minha amiga Luciana, que está em processo de migração de carreira para a área de Sustentabilidade. Agradeço muito a Luciana por me autorizar a contar sua história pessoal, repleta de detalhes e algumas confidências.


Na minha vida profissional eu trabalhei em nove empresas diferentes e fiz várias transições de carreira, mas considero que vivi 3 transições que realmente foram especiais e impactantes. Todas foram difíceis. Todas me deixaram aprendizados e “cicatrizes”, por isso foram as que selecionei para compartilhar neste longo artigo.


Minhas viagens de trabalho

A PRIMEIRA TRANSIÇÃO


A primeira transição foi de Técnico Eletricista e Engenheiro Eletricista para me tornar um Profissional de TI e Análise de Sistemas.


Era década de 1980. Eu já estava trabalhando como técnico eletricista há anos. Seguir na carreira e buscar a formação como engenheiro eletricista era o caminho lógico e racional… o caminho óbvio e mais fácil. E foi assim que segui.


Passei no concurso para uma conceituada universidade pública do Rio de Janeiro e fiz o curso de engenharia, com duração de 5 anos. Simultaneamente ao curso, eu trabalhei durante todo o tempo. Não passei um ano sem um estágio ou emprego.


No meu último ano do curso, eu me vi diante de um grande dilema. Estava prestes a me formar em engenharia, mas o mercado de trabalho estava muito ruim para engenheiros recém-formados. Não havia empregos.


Eu lia os jornais e surgiam matérias falando sobre um tal computador pessoal. Surgiam nomes como Steve Jobs, Steve Wosniak, Bill Gates, Arthur Sinclair etc. A tal da “microinformática” surgia vigorosa e promissora. Aquilo me encantava. Quando se falava em computadores, o que existia de fato, na época, eram os chamados mainframes, que eram equipamentos gigantes, que exigiam profissionais superespecializados e ainda raros no mercado: os Analistas de Sistemas.


Poucas empresas dominavam este mercado de computadores na década de 80. Apple e Microsoft ainda não existiam, eram apenas sonhos mal concebidos na cabeça dos adolescentes Jobs e Gates. Os nomes conhecidos e fortes eram IBM, Burroughs, DEC, Cray Research, entre outros. Aliás, a IBM era o Google daquela década.


Como a informática estava ainda surgindo, não havia profissionais formados naquela época para serem absorvidos pelo mercado, porque apenas duas ou três universidades no Brasil tinham cursos técnicos na área. Tudo era incipiente e pioneiro. Empresas como Burroughs e IBM, grandes fabricantes da época, contratavam estudantes de engenharia, matemática, física etc, e criavam turmas próprias de formação em análise de sistemas. Os melhores estudantes, quase sempre, eram contratados pelas empresas.


Me inscrevi em alguns concursos, super disputados e com baixa chance de sucesso. Queria ver o que acontecia.


Surpreendentemente, eu fui selecionado em um concurso da Burroughs, que era uma gigante da tecnologia na época.


Eu me senti diante de uma terrível decisão: entrar na Burroughs significava abandonar o caminho da engenharia para me jogar em um caminho desconhecido e perigoso, em uma carreira imprevisível e aquilo me parecia muito arriscado. Por outro lado, insistir na engenharia me parecia aceitar a acomodação, não tomar riscos e entrar na guerra de mercado para conseguir um emprego numa área tradicional e pouco desafiadora. Certamente eu concluiria o curso de engenharia, até para ter o diploma, mas entrar na Burroughs, no último ano do curso, estaria selando a minha saída da engenharia.


Eu tomei a decisão de entrar na Burroughs, com muito medo e insegurança. Eu tinha dúvidas se eu seria capaz de lidar com o imprevisível. O compromisso da empresa era me prover um curso de formação em Análise de Sistemas durante um ano inteiro. Foi montada uma turma de 32 alunos e eu fiz parte dela. A promessa da empresa era contratar os melhores alunos no final do curso, porém a empresa não se comprometia com números e condições.


Eu me joguei naquilo e a sensação foi estar em um bote salva-vidas em alto mar. Eu não entendia nada. Me sentia um estranho no meio de nerds e de alunos sedentos por competitividade e holofotes. Tudo era desafiador. Eu estava acostumado a trabalhar em fábricas e linhas de produção, vendo equipamentos sendo produzidos, enquanto trabalhar com programação de computadores me parecia algo irreal, sem clareza do que produzíamos e do nosso real propósito. É difícil descrever o que eu sentia na época. Isso tudo tendo por trás uma imensa dúvida se eu havia tomado a decisão correta por ter abandonado a engenharia.


Eu passei aquele ano de 1984 com a sensação de que eu não estava pronto e não era capaz de seguir com aquilo. Eu precisava me provar o tempo todo. Convivia diariamente com um sabotador dentro de mim, dizendo que eu estava me enganando.


No final daquele ano, antes de concluir o curso na Burroughs, eu pedi para sair. Naquele mesmo ano, eu havia feito um outro concurso, desta vez para Bolsa de Valores, onde eles se comprometiam a me treinar em Análise de Sistemas na plataforma IBM, que era a plataforma mais importante do mundo naquela época. Fui selecionado e optei pela oferta da Bolsa de Valores, que me parecia mais segura e promissora que a Burroughs.


Apesar da imensa insegurança, eu sabia que o real problema estava dentro de mim! Eu precisava superar tudo aquilo para abraçar a decisão que eu já tinha feito dentro da minha cabeça: me tornar um profissional de TI.


Este processo de absorver uma mudança de carreira me tomou dois anos. Precisei deste tempo para me reconhecer na nova área e começar a sentir que aquela decisão era definitiva. A sombra do engenheiro conviveu comigo durante alguns anos, até ser adormecida por completo.


O meu aprendizado neste processo foi a PERSISTÊNCIA somada a PACIÊNCIA, foi aprender a CALAR O IMPOSTOR dentro de mim que me falava que eu não era capaz, que sabotava o meu potencial e me levava para a racionalidade nua e crua. Foi a CONFIANÇA NA MINHA INTUIÇÃO de que a informática/TI era a carreira do futuro, que segurou a minha determinação.


Na Unisys

A SEGUNDA TRANSIÇÃO


A segunda transição foi de Profissional de TI (Tecnologia da Informação) para Profissional de Marketing e Comunicação.


Na década de 1990, eu já era um profissional de TI, com carreira crescente e com boa visibilidade nas empresas onde trabalhava. Nesta fase, descobri novas habilidades que desconhecia. Eu era bom de comunicação verbal, hábil em lidar com situações difíceis, muito curioso por aprender coisas novas e já mostrava evidentes skills de liderança de pessoas e de negócios.


Em pouco tempo fui promovido para gerente e me aproximei da área comercial. O pessoal de vendas gostava de me chamar para participar das propostas e reuniões com clientes. Eles diziam que eu era um excelente profissional técnico com excepcionais skills de vendas, como comunicação, capacidade de negociação, escuta ativa e empatia. No entanto, eu continuava me vendo apenas como um bom profissional de TI desenvolvendo habilidades adicionais.


Em 1995, sob pretexto para o meu desenvolvimento como um possível futuro executivo da empresa onde trabalhava, fui nomeado para uma posição de liderança em marketing e comunicação. Eu resisti muito para aceitar este cargo. Eles estavam me “jogando” em uma área completamente desconhecida e isso me parecia um tremendo risco para minha carreira e para própria empresa. Me senti completamente inseguro diante da situação, até porque isso significava aceitar a saída da área de TI, sem garantia de retorno.


Nesta época eu trabalhava na IBM, que era a maior empresa de TI do mundo. Eu entendia esta mudança de posição como um teste que a empresa fazia comigo. A questão é que eu estava com medo de jogar este jogo e fracassar. Racionalmente, eu ainda desejava preservar meus skills técnicos e seguir crescendo na carreira de TI.


Eu aceitei o desafio e “fui jogar” o jogo. Assumi uma posição de liderança em Marketing Communications, tendo comigo um time formidável de profissionais competentes na área. O acordo era trabalhar apenas um ano na posição, o que realmente aconteceu. O ano foi tão extraordinário, que a IBM Brasil ganhou o Prêmio Caboré, como o “Anunciante do Ano” de 1995. Eu recebi o prêmio, que é considerado o maior reconhecimento publicitário do país.


Nos anos seguintes eu vivi uma alternância de posições executivas, porém dois anos depois eu voltava para liderança de Marketing Communications.


Após mais dois anos, ocorreu uma mudança global de posições executivas e o novo líder mundial de marketing da empresa questionou a minha posição executiva no Brasil, alegando que a liderança da área deveria ser entregue para um profissional formado e experiente em Marketing e Comunicação e não para um profissional com formação em Engenharia e TI. Não vou contar detalhes desta situação porque não é o propósito aqui, mas a visão dele estava completamente distorcida e equivocada.


Esta liderança tóxica começou a minar o meu trabalho e, de alguma forma, me deixei se influenciado por tudo aquilo. Em apenas um ano, comecei a me sentir um impostor na posição, apesar de já estar trabalhando na área há alguns anos e ter reconhecimento público na posição. Comecei a ter a sensação de que eu não estava pronto e não era capaz. Eu me auto-sabotava. Mas o grande problema vinha de fora, porque eu não tinha apoio das lideranças da empresa. Eu vivia constantemente com a necessidade de me precisar provar para eles.


A conclusão deste processo foi óbvia: eu deixei a posição. Voltei para uma posição de liderança de TI e Negócios dentro da empresa. Mas a minha decisão de vida já estava tomada. Nos últimos anos eu já havia me tornado um profissional de comunicação e marketing. E, também, já havia me convencido de que era essa a carreira que eu gostaria de seguir em minha vida profissional.


Tomei a decisão de obter uma formação acadêmica em Marketing e Comunicação. Me inscrevi na Fundação Getúlio Vargas para um MBA com duração de um ano e meio, exatamente em Marketing e Comunicação. Isso impactou imensamente a minha vida pessoal, pois as aulas eram presenciais, durante 3 dias na semana (sábado inteiro, 4ª e 6as feiras à noite), mas eu estava determinado a me formar como profissional da área.


Logo após a minha formação, eu pedi demissão da IBM para assumir uma posição como Diretor de Comunicação e Marketing na Intelig, que no ano 2000 era a maior startup do Brasil e uma das estrelas da onda de privatização das telecomunicações no Brasil. Anos depois a Intelig foi comprada pela TIM.


No final do ano 2000 a Intelig conquistou o Prêmio Caboré como a “Anunciante do Ano”. Era a segunda vez que eu subia no palco para receber o prêmio publicitário mais cobiçado no país. Em apenas um ano, eu havia me provado ser um profissional e executivo competente na nova carreira. Finalmente dormia em paz.


O principal aprendizado nesta segunda experiência foi MONTAR UM PLANO DE TRANSIÇÃO E EXECUTÁ-LO COM DISCIPLINA. Quando aquele líder global me disse que eu não tinha competência para estar na posição de liderança de comunicação e marketing, em vez de me abater, aquilo ligou dentro de mim uma necessidade de reação, de mostrar e PROVAR PARA MIM MESMO que ele estava errado. Ali eu tomei a decisão de fazer um MBA, ter o diploma de formação da área em uma conceituada instituição de ensino, de criar um vigoroso e amplo networking com importantes profissionais da área e mudar de emprego. Este último ponto foi um enorme desafio, pois isso significava sair de uma empresa onde eu já estava há 13 anos e era reconhecido, para me jogar em um novo ciclo profissional.


Foto de 1997 com uma parte do time de marketing e comunicações da IBM Brasil

A TERCEIRA TRANSIÇÃO


Hoje vivo a terceira transição.


Esta transição é certamente a mais difícil. Ela não é apenas profissional pois abrange todos os aspectos e dimensões da minha vida. Ela transcende qualquer experiência que vivi no passado e por isso se torna muito mais desafiadora.


Como toda transição, essa também vem carregada de insegurança e incertezas. Porém, estou com 63 anos e mais cascudo. Não preciso me provar para pessoas ou organizações, nem para mim mesmo. A questão agora não é receber a credencial ou aprovação de alguém, mas é descobrir o que quero para meu bem-estar e realização. Sou eu comigo mesmo.


A transição é de executivo profissional de marketing e comunicação para algo que eu ainda não sei bem, talvez um mentor ou coach em liderança, o que já está rolando, mais ainda é algo em construção.


O artigo “Vamos acabar com o Hobby?”, do meu amigo Luiz Serafim, despertou algumas reflexões sobre este meu processo.


Serafim é um executivo super reconhecido, referência em marketing, palestrante e autor do best seller “O Poder da Inovação”. Seu artigo comenta que em suas jornadas como palestrante, ele sempre foi apresentado através de sua bio profissional, o que é comum no mercado (“Serafim estudou aqui e ali, trabalhou na empresa tal, ocupou tais cargos e agora é vice-presidente de assuntos aleatórios na empresa X”).


Serafim diz ter orgulho de suas experiências, de suas graduações em escolas de boa reputação, de suas passagens por empresas admiradas e das posições executivas que ocupou em organizações reconhecidas. Entretanto, ele sentia falta de outras dimensões vitais para falar verdadeiramente quem era o ser humano Luiz Serafim.


Então, a partir de determinado momento, ele passou a se apresentar à sua maneira. Ele adicionou coisas preciosas que o definem “por dentro”, como por exemplo: grande curioso, professor-aprendiz, pianista, compositor, pai orgulhoso do Gabriel, jovem com deficiência física e promissor atleta paralímpico, apaixonado por aplicar inovação na vida etc.


Me identifiquei muito com este post do Serafim porque ela é tradução desta minha nova transição de vida.


Quando escrevi acima que eu era profissional de marketing e comunicação e agora, talvez, eu esteja caminhando para me tornar um mentor ou coach em liderança, eu estava me reduzindo tremendamente e avaliando o contexto com uma sofrível e acanhada visão de perspectiva.


De alguns anos para cá eu vivo uma espécie de expansão da consciência e de visão de vida. Parece que meus braços aumentaram porque consigo tocar mais coisas. Minha visão foi ampliada, porque vejo coisas que eu não via antes. Minhas pernas cresceram e se tornaram mais vigorosas, porque caminho cada vez mais longe. Tudo parece retórica, mas ao mesmo tempo tudo parece muito real e importante para mim.


Eu não me vejo mais colocando a minha dimensão profissional no centro de tudo. Aliás, o que faço profissionalmente perdeu importância para minha vida diante da grandiosidade de outras coisas, exatamente como diz o Serafim em seu texto.


Nos definirmos em termos profissionais, ou, conduzirmos nossa vida tendo a dimensão profissional como ponto central, me parece muito limitante.

Esta minha transição tem sido a mais fantástica de todas, pois me envolve completamente como ser humano. Exige de mim uma visão holística, uma incrível capacidade de questionar e abandonar crenças, limitantes ou não, uma necessidade primordial de viver novas experiências, de aceitar e me aproximar de pessoas muito diferentes de mim e viver o fluxo da vida, aceitando que não faz sentido tentar controlar tudo.


Considero que este meu atual processo de transição começou de forma muito lenta em 2017, progredindo nos anos seguintes. A real transição começou, de fato em 2020, e foi se acelerando exponencialmente. Os anos de 2021 e 2022 foram os anos de maior transformação, apesar que o processo continuou em 2023 e ainda continua.


O que me ajudou muito foi entender que ter as PESSOAS AO MEU LADO seria fundamental na construção de uma visão mais clara do que eu perseguia dentro de mim. Estou falando de amigos(as) e colegas, generosos(as), que compartilham comigo suas visões de vida, experiências, conselhos, através de conversas e longas interações, as vezes em bate-papos que parecem despojados de qualquer propósito específico, mas são extremamente ricos.


Essas pessoas, que dentro da minha mente eu chamo de mentores e mentoras, era e são de uma diversidade muito grande. Não são exatamente pessoas que já passaram ou estão passando por momentos similares ao que vivo agora, mas são pessoas em momentos de vida muito distintos. Estou falando de pessoas experientes, pessoas jovens, pessoas que largaram tudo para se jogar em um caminho alternativo, pessoas que viraram nômades pelo mundo, pessoas que mudaram de carreira quando estavam no auge e vários outros contextos. Nesses últimos anos em me conectei com esta turma toda. Aprendi e continuo aprendendo com todos eles e elas, que considero como amigos(as) e mentores(as).


Diferentemente das duas primeiras transições anteriores que eu havia contado, esta minha transição atual de vida tem um novo elemento fundamental: MENTORIAS.


No Morro das Pedras, em Florianópolis

TRANSIÇÃO NUNCA É FÁCIL


Mudanças de carreira ou emprego sempre carregam tinturas de ansiedade, medo, insegurança, questionamentos, vulnerabilidade e um tremendo desconforto.


Pulam perguntas dentro da nossa mente.


“Será que vale a pena mudar? E se a mudança for para pior? Se der errado, como vou sobreviver?”

Surge o chamado “dilema da prisão”. Convido você a ler o artigo “Mudar de carreira é o novo normal. Mas por que você está com medo?” no StarSe para conhecer o “dilema da prisão”.


Pensamentos sabotadores parecem alimentar a nossa indecisão. Tais pensamentos são influenciados por nossas crenças e vieses cognitivos. Ter consciência destes vieses ajuda muito na tomada de decisões. O artigo “Transição de carreira: como ter coragem para mudar” fala sobre vieses cognitivos.


Apesar de não existirem receitas de bolo para transição de carreira, me parece que alguns passos são essenciais, como autoconhecimento, conhecimento de suas habilidades, clareza das oportunidades do mercado etc. No site da Robert Half, tem um artigo curto e bacaninha chamado “Transição de carreira: como se redescobrir profissionalmente?” que pode ajudar.


Seguindo a estratégia de aprendermos com a experiência dos outros, recomendo muuuuito a leitura do espetacular artigo da Célia Kano chamado “Como foi a minha transição de carreira do corporativo para impacto social“.


Destaco 3 citações no artigo da Célia que interpreto como 3 grandes aprendizados:

1-A grande dela luta foi (e ainda é) contra as opiniões alheias;

2- Uma boa transição de carreira não envolve somente a carreira;

3- O principal ganho com a transição de carreira foi o alinhamento de seus valores pessoais.


Conduzindo uma palestra

A TRANSIÇÃO DA LUCIANA


A seguir, conto em detalhes a experiência de transição de carreira da minha querida amiga Luciana Artilheiro.


Quando estudante, Luciana sonhava em ser cientista. Se imaginava dentro de um laboratório, vestindo jaleco branco, usando equipamentos de proteção individual (EPI’s), analisando placas no microscópio e misturando e criando soluções químicas.


Ela se inscreveu no vestibular de química ambiental na USP, mas não passou. Então procurou alternativas de cursos baseados na área da química e que cabiam em seu orçamento. Entrou no curso de Gestão Ambiental, na Faculdade de Tecnologia Oswaldo Cruz. A cada aula, ela tinha certeza de que havia escolhido a profissão certa.


Luciana amava as aulas de laboratório na faculdade, mas no final do curso, quase sem perceber, ela já havia alterado o norte de sua rota e, já não pensava mais em trabalhar em laboratório, mas sim, em uma consultoria ambiental, com diversos tipos de projetos, num ambiente dinâmico e enriquecedor. Em 2014 ela concluiu o curso.


Após quase 3 anos de formada, Luciana estava quase sem esperanças. Ela já havia tentado de diversas formas entrar na área de sua formação, porém, ainda não havia conseguido viver uma experiência de trabalho na área de meio ambiente. Durante este tempo ela trabalhou em diversos empregos diferentes, porém nunca na área de formação. No final de 2016 a sorte começou a mudar para Luciana.


Ela foi chamada para uma entrevista em uma empresa de consultoria ambiental. O enfoque da empresa era Licenciamento Ambiental (um dos carros chefes do meio ambiente no Brasil). A entrevista foi ótima e ela foi contratada. Naquela empresa ela viveu uma experiência muito rica e criou um currículo robusto de projetos, experiências, networking e aprendizados. Finalmente ela se sentia uma profissional de sua área de formação.


Nesta mesma época, ela ingressou no curso de Engenharia Ambiental, formando-se após três anos de estudo, pois conseguiu aproveitar todas as matérias que havia cursado na faculdade anterior.


Em 2020, já com o diploma de Engenharia Ambiental em mãos, Luciana começou a perder o encanto pelo trabalho em Licenciamento Ambiental. Ela gostava, tinha bom domínio e conhecimento da área, mas tudo parecia pequeno, limitante e repetitivo. Surgiam dificuldades no trabalho que a fizeram questionar algumas coisas, o que amplificou mais ainda a sensação de vazio. Ela sentia que havia algo mais a buscar.


Seu propósito havia mudado ao longo do tempo. Luciana queria mais. Luciana queria trabalhar com sustentabilidade, de forma ampla e com alcance global.


Em 2021, o ciclo de trabalho da Luciana na empresa chegava ao final. Foram cinco anos naquela organização. Ela estava diante de uma grande decisão de vida: ou seguia na área de licenciamento ambiental, que ela dominava e já tinha networking e competência comprovadas, ou aproveitava aquele momento para se lançar em um novo caminho, que seria iniciar uma carreira em sustentabilidade, uma jornada que se mostrava árdua e difícil.


Dito de outra forma: a grande questão era seguir na carreira já em andamento ou fazer uma transição de carreira?


No mesmo ano de 2021, através de um post que publiquei no LinkedIn, ela descobriu o Helping Hands, que é o marketplace de voluntariado do Leading Zone. Ela resolveu experimentar as mentorias voluntárias oferecidas no marketplace. Foi aí que nos conhecemos e nos tornamos amigos.


Luciana afirma que as mentorias do Helping Hands foram um grande divisor de águas em sua vida, não só no âmbito profissional, mas também no pessoal. Eu indiquei algumas pessoas com que ela poderia conversar na avaliação e planejamento em sua transição de carreira. Essas pessoas indicaram outras e, assim, foi sendo criada uma poderosa rede de relacionamento, o chamado networking de valor. Dessa vez, na área que ela estava buscando: sustentabilidade.


Luciana mapeava o mercado, estudava muito, fazia cursos, expandia seu networking, atuava de forma direcionada no LinkedIn, crescia o conhecimento na nova área, realizava mentorias com os diversos mentores do Helping Hands e com os contatos recém-desenvolvidos, muitos deles profissionais experientes ou emergentes nas diversas dimensões da área de sustentabilidade.


Luciana Artilheiro

Eu brincava com a Luciana dizendo que ela era uma supernova, no início de seu processo de explosão.


Ela conheceu a Sonia Consiglio, que é LinkedIn Top Voice em Sustentabilidade. Sonia é formada em jornalismo, atuou por muitos anos no mercado financeiro, com especialização em sustentabilidade.


Para Luciana, a Sonia é a principal referência quando o assunto é sustentabilidade. Elas se conheceram e a conversa se transformou em uma espécie de mentoria.


Na primeira conversa delas, Luciana contou sua história. Sonia trouxe uma perspectiva diferente e, vindo de sua maior referência de carreira, aquela conversa trouxe muito conforto para Luciana.


Segundo a Sonia, o caso de Luciana poderia ser interpretado como uma adição de atuação, somando a sustentabilidade ao seu leque de atuação já trilhado. A conversa abriu a cabeça de Luciana, trazendo caminhos concretos, oportunidades e maior clareza do que buscar e como se posicionar no mercado.


Luciana afirma que Sonia é sua maior inspiração. As conversas iluminaram a mente e seus planos, gerando entusiasmo e certeza do caminho a seguir.


Estava definido: sua “transição de carreira” seria da experiência com Licenciamento Ambiental para atuação em ESG/Sustentabilidade no Mercado Financeiro.


A sigla ESG vem do inglês e significa Environmental, Social and Governance (Sustentabilidade Ambiental, Social e Governança Corporativa).


Luciana conversou com mais especialistas e profissionais em sustentabilidade, como por exemplo, Vanessa Pinsky, LinkekdIn Top Voice e referência na área.


Nos últimos dois anos, Luciana vem participando de cursos online e gratuitos, eventos, palestras, workshops, como convidada participante, mas também como palestrante, como ocorreu na III SEMA – Semana de Engenharia e Meio Ambiente realizada na Universidade do Estado de Minas Gerais. Neste evento, Luciana ministrou a palestra “Me formei em Engenharia Ambiental. E agora?” para estudantes de Engenharia Ambiental sobre sua perspectiva e experiência de atuação na área de meio ambiente, incluindo dicas e possíveis caminhos que os estudantes poderiam seguir dentro da área. Ela se sentiu muito bem ao compartilhar os conhecimentos obtidos e reforçou, mais uma vez, que ela já era uma profissional experiente da área.




Desde março de 2023 que Luciana atua em uma posição na Prefeitura de São Paulo, trabalhando no gerenciamento e controle da poluição. Os desafios da gestão pública são enormes, entre eles a educação ambiental, que é uma das dimensões dentro da ampla área da sustentabilidade.


A atuação dentro da Área Ambiental, que é a especialização da Luciana, apresenta um enorme número de vertentes, como licenciamento ambiental (onde Luciana trabalhou durante anos), geração e controle da poluição (onde ela está atuando agora), ESG (onde ela sonhar se desenvolver e trabalhar), certificação e auditoria, educação ambiental, remediação, direito ambiental, contabilidade ambiental, saúde, segurança e meio ambiente etc. Como podemos ver, as possibilidades e caminhos são inúmeros. Luciana está apenas no começo da jornada.


A história da Luciana está sendo escrita. Somos amigos e tenho uma imensa admiração de ter contribuído de alguma forma, em algum momento, para sua mudança de direção e realização de seu sonho.


Vejo a transição de carreira da Luciana como um exemplo típico de um processo sendo realizado com critério, perseverança e aprendizado contínuo. Por outro lado, como qualquer mudança, a vida da Luciana não tem sido fácil, pois as coisas demoram para acontecer, as vezes ela tem a impressão de ter avançado três passos, e depois ter regredido dois. Porém o importante é caminhar, seguir em frente, encarar os obstáculos, vibrar com as conquistas, ajustar planos e lapidar sonhos.


O que tenho aprendido no processo da Luciana é que muitas vezes não fazemos uma transição de carreira, mas sim uma AMPLIAÇÃO DE CARREIRA, que é o caso dela.


Luciana está se tornando uma profissional mais completa, mais apta para abraçar novas oportunidades e se preparando para um futuro de novos desdobramentos em sua área de especialização. Em vez de afunilar o seu caminho profissional, ela está ampliando-o.


Outro evidente aprendizado é que seu processo tem por base MENTORIAS, que ela tem aproveitado muito bem. Inicialmente, com a ajuda dos mentores do Helping Hands da Leading Zone, ela avaliou e tomou a decisão de fazer o movimento de carreira, entendendo o contexto, mapeando os possíveis caminhos e dificuldades. O passo seguinte, com mentorias especializadas em sustentabilidade, ela obteve clareza não apenas do que perseguir, mas como perseguir, rascunhou seu plano de ação e se sentiu mais segura do caminho a ser trilhado.


De certa forma, os mentores do Helping Hands foram o sol para Luciana, dando a luz necessária para ela iniciar o seu processo de carreira. Já as mentorias de sustentabilidade foram o farol, mostrando o norte, a direção, permitindo-a caminhar sem perder o foco.


Convido você para conhecer o Helping Hands em um vídeo curto, de pouco mais de 1 minuto, onde o CEO da Leading Zone, Marcelo Medeiros, apresenta a proposta. Depois, faz uma visitinha no site para pegar mais detalhes:



DUAS PALAVRAS FUNDAMENTAIS


A transição de carreira envolve muitas palavras, mas duas palavras me soam fundamentais.


A primeira palavra é CORAGEM, que é a coragem de decidir mudar. É preciso coragem para enfrentar a insegurança da mudança, de tomar um caminho tortuoso e desconhecido, de se desapegar do passado e de sair da zona de conforto, para se jogar em uma jornada de incertezas e obstáculos.


A segunda palavra é CONFIANÇA. A partir do momento em que você teve coragem de mudar, então é hora de confiar, de acreditar na sua INTUIÇÃO, na voz que vem de dentro de você, de acreditar que as estrelas do universo conspirarão a seu favor para realizar o seu sonho. Você pode e deve olhar algumas vezes para o passado apenas como um retrovisor, até para ter certeza de que ele está ficando distante e, também, para calibrar o seu olhar para frente. O importante é seguir, confiando que as coisas vão acontecer no tempo e do jeito certo.


Siga o perfil de Luciana Artilheiro no LinkedIn e aprenda com ela.


Parabéns , Luciana! Você é uma referência para mim.


Luciana Artilheiro

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