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Sob a ferrugem do meu corpo



Ao longo dos anos a minha pele foi ficando mais enrugada, surgiram dores nas costas, fui perdendo o corpo esguio e os cabelos se tornaram brancos. Por fora, criei ferrugem. O tempo dosou a minha inocência, a impulsividade e o idealismo. Porém por dentro estou mais sábio, equilibrado, justo, tolerante e experiente, enfim, melhor. O tempo transforma.

Por fora, cada vez faço menos. Não corro mais como antes, não devo tomar tanto sol na praia e tenho que cuidar melhor da alimentação. Por dentro, me vejo mais capaz. Aprendi a tomar riscos, planejar meu aprendizado e buscar coisas novas.

Anos atrás, em determinado momento, eu caí na armadilha de achar que as evidências da minha idade me enfraqueceriam perante as pessoas. Algo como um objeto que um dia teve valor, que você põe na estante e fica lá com o tempo. Você olha, tem lembranças boas, até chegar o dia de tirar e guardar numa gaveta. No entanto, o tempo foi passando e eu passei a ver a ferrugem do meu corpo com outros olhos.


A ferrugem protege, engrossa a casca, mostra história e experiência, simultaneamente resguarda e acolhe o interior. Ela está apenas por fora do meu corpo, por dentro eu estou mais brilhante. A ferrugem desenvolve a alma.

Don Henley, um dos fundadores da banda Eagles, diz que não vê ferrugem como uma coisa ruim. Ele tem um velho trator John Deere 1962, que está coberto de ferrugem, mas que continua trabalhando muito bem até hoje.


Para ele, aquela espessa ferrugem simboliza os quilômetros percorridos, todo o bom trabalho realizado e as experiências acumuladas. Ele disse: “De onde eu me sento, a ferrugem parece muito boa”. Segundo Don, o trator está perfeito e funcionando melhor do que nunca. Que nem eu.


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