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Mudar a direção da vida enquanto há tempo

A maior parte da minha vida pode ser comparada à uma estrada sinuosa, muitas vezes íngreme, porém sempre me senti caminhando para frente, mesmo em algumas situações em que tive que fazer um pequeno desvio. Nunca me achei saindo do caminho. Até que, anos atrás, me deparei com meu caminho interrompido. De repente, caiu uma grande tempestade, um enorme rio transbordou e levou embora a estrada onde eu caminhava. Não tinha jeito, a única solução era pular no rio e deixar a correnteza me levar. E foi isso que fiz. Aceitei viver uma experiência transformadora, que me trouxe muita luz e lucidez, mesmo enfrentando um período de muitas sombras e desilusão com a vida. O fato que é mudei radicalmente a direção da minha existência.


Este artigo foi escrito com base na leitura de 3 livros e 2 episódios de podcast, que se somam e se complementam.


O SAPO E A ÁGUA QUENTE


Ao ler o livro “Revolução Sistêmica", de Patrícia Calazans, eu cheguei à conclusão de que eu era um sapo fervido dentro de uma panela. O trecho a seguir foi retirado do livro, na pág. 141.


Fábula: O sapo e a água quente


Vários estudos biológicos demonstram que um sapo colocado num recipiente com a mesma água de sua lagoa fica estático durante todo o tempo em que aquecemos a água, mesmo que ela ferva. O sapo não reage ao gradual aumento de temperatura (mudanças de ambiente) e morre quando a água ferve, inchado e feliz.


Por outro lado, outro sapo que seja jogado nesse recipiente com a água já fervendo salta imediatamente para fora. Meio chamuscado, porém vivo.


Às vezes, somos sapos fervidos, não percebemos as mudanças. Achamos que está tudo muito bom, ou o que está mal vai passar – é só questão de tempo. Estamos prestes a morrer, mas ficamos boiando, estáveis e apáticos na água que se aquece a cada minuto. Acabamos morrendo inchadinhos e felizes, sem termos percebido às mudanças à nossa volta.


Autor desconhecido


Ao ler o texto acima, foi impossível não fazer um paralelo com a minha vida e de muitas pessoas amigas.


Ao olhar para trás, eu me vejo como um sapo dentro de uma panela quente, com gradual aumento de temperatura. Eu acho que comecei a sentir o calor da água por volta dos 50 anos de idade. Teve início uma fase de muitos questionamentos internos relativos à minha vida, apesar de ter um excelente emprego, um trabalho que me realizava, uma família feliz, não havia problemas financeiros ou graves de saúde e estava sempre cercado de bons amigos e amigas.


Tudo parecia maravilhoso, quase perfeito, mas algo faltava. Não me sentia pleno. Havia algo ou alguém dentro de mim que precisava ser descoberto e revirado. Me sentia incompleto. Na verdade, eu não entendia muito bem o que eu sentia e nem o que faltava. Nestas horas eu tratava aquilo como simples caraminholas da minha cabeça. Quase sempre eu dava um “chega pra lá nestes meus pensamentos” e tentava voltar ao dia a dia, grato pela minha vida estruturada e segura. Tal qual o sapo fervido, eu sentia o calor, mas aguentava firme, estático, boiando na água quentinha.


Com o câncer da Regina, o cenário mudou radicalmente. Algo grave, disruptivo, radical, transformou tudo. De repente, a panela onde eu estava, que já tinha água quente, teve um aumento de temperatura repentino, brusco e acelerado. O aumento de temperatura da água foi tão intenso, que eu pulei para fora da panela, chamuscado e dilacerado, porém vivo e consciente. E foi assim, inicialmente queimado e prostado, que eu decidi redirecionar a minha vida e não voltar de novo para a panela de água quente e gostosa.


Nos últimos anos, ao compartilhar dezenas de artigos no meu blog contando as minhas reflexões, dores, vitórias, confidências, perdas e ganhos, eu fui tomando consciência de que as minhas inquietudes e incompletudes também habitam mentes e corações de muitas pessoas.


Minhas histórias pessoais e devaneios ecoaram na cabeça de muitos amigos e amigas, e também de muitas pessoas que eu não tive o prazer de conhecer pessoalmente (graças ao alcance do meu blog e do LinkedIn, onde publiquei meus artigos).


Recebi milhares (milhares mesmo!) de mensagens de pessoas dando depoimentos, gentilmente compartilhando suas histórias pessoais, seus dilemas e anseios. Muitas destas pessoas falavam sobre sentimentos difíceis de descrever, de incompletude, de vida sem propósito e questionamentos sobre um futuro mais virtuoso e feliz. Ou seja, são todos sapos em suas panelas de água quente, sentindo calor e desconforto, mas também aquecidos e aparentemente resignados com a vida que levam. Porém, quando contam suas histórias, fica evidente que o calor da panela está matando lentamente suas expectativas de uma existência diferente, com mais significado, satisfação pessoal e plenitude.


A única solução é pular fora da panela. E, neste caso, só existem duas possibilidades.


A primeira é que algo extraordinário e intenso aconteça na vida da pessoa, como aconteceu comigo, para fazê-la despertar. Estou falando de algo não planejado, mas forte suficiente e transformador que faça a pessoa pular para fora da panela. Quando isso acontece, sempre existe a possibilidade da pessoa voltar para dentro da panela, mas quase sempre ela nunca mais volta, porque despertou e entende que a vida fora da panela é um caminho muito mais interessante e dignificante, portanto é um ponto sem retorno.


A segunda possibilidade é a pessoa tomar a iniciativa de pular para fora da panela de água quente, por conta própria, mesmo que a água ainda esteja em condições suportáveis. Isto é muito mais difícil de acontecer do que no primeiro caso, porque exige uma tomada de decisão, de sair de um ambiente conhecido, ilusoriamente controlado, para pular para um lugar inseguro, frio e inóspito. Porém, a questão é simples. Se o sapo não pular, inevitavelmente ele vai morrer, boiando e aparentemente confortável.


Todos nós estamos destinados a sermos sapos fervidos. Dependemos de uma ocorrência externa ou da nossa própria iniciativa para escaparmos do fim trágico.


Comendo uvas dos vinhedos existentes na na trilha do Vale Europeu, em 2020

TARDE DEMAIS

Apresento a seguir mais um trecho do livro da Patrícia Calazans (pág. 15):


Quando observamos a história dos nossos ancestrais, percebemos que fomos criados no paradigma da escassez, acreditando que não há o suficiente para todo mundo, que precisamos competir, controlar nosso ambiente e nossa vida para garantir conquistas materiais futuras e reconhecimento social. Este pensamento moldou nossas crenças, fazendo com que nos afastemos totalmente da nossa natureza e passemos a viver dentro desse padrão, que consideramos “normal”: uma vida de sacrifícios, de muito trabalho, pouco tempo livre e totalmente direcionada para conquistas e acumulação de recursos materiais e sociais (como status, reconhecimento, bens e títulos) que garantam um futuro. Vivemos para conquistar, acumular, competir e consumir.


Com o passar dos anos, essa vida de sacrifícios, competição e conquistas cobra o seu preço, que geralmente vem sob a forma de sofrimentos, sejam eles físicos (péssima alimentação, sedentarismo, maus-tratos ao organismo e doenças de um modo geral), mentais (transtornos de sono, ansiedade, depressão e vícios) e sociais (solidão, carência afetiva e conflitos).


Após enfrentar alguns ou vários anos desses sofrimentos e, muitas vezes, de já estar vivendo sob suas sequelas, quando chega na velhice, o ser humano se dá conta de que sua vida é consequência de suas escolhas, da importância que deu para coisas que não deveria ter dado. Percebe que não viveu a vida que gostaria de ter vivido, que não se dedicou suficientemente para as pessoas que gostaria de ter se dedicado. E que, quando era criança, vivia feliz. Então, se ainda tiver tempo, tenta viver assim novamente. Porém, para muitos, esta percepção surge à beira do seu leito de morte. Triste, não?


Ler este trecho do livro me permitiu, mas uma vez, estabelecer uma conexão imediata com a situação vivida por muitos amigos e amigas… e a minha própria. Mais uma vez surge a fábula do sapo.


Chegará um determinado momento em que o sapo não conseguirá mais pular para fora da panela de água quente, mesmo que ele queira, porque não terá mais forças. Ele poderá até tentar, mas não conseguirá por falta de vitalidade. Ele não conseguirá porque não terá os recursos necessários para sair daquela condição. Enfim, aceitará o destino.


Quando mais cedo pularmos da panela, maior a chance de darmos um pulo mais forte e vigoroso para mais longe do fogo e da água quente, sem queimaduras ou marcas inapagáveis.


Por outro lado, quanto mais tempo demorarmos para saltar, quanto mais longo for o tempo para uma tomada de decisão, maior a chance de nunca conseguirmos sair do fim trágico inevitável.


Acampando na trilha de Cora Coralina, GO, em 2022

VIVER A VIDA PARA OS OUTROS


Bronnie Ware, enfermeira australiana, trabalhou muitos anos com cuidados paliativos de pacientes terminais. Ela ficou conhecida através de seu blog pessoal, em que compartilhava as principais histórias e experiências de seus pacientes à beira da morte. Com o sucesso do blog, ela decidiu publicar o seu primeiro livro, que se tornou um grande sucesso. Confesso, o livro é um “tapa na cara”.


No livro “Antes de partir”, Bronnie Ware apresenta os cinco principais arrependimentos que ouviu de seus pacientes. São eles:


  1. “desejaria ter tido a coragem de viver uma vida verdadeira para mim mesma, não a vida que os outros esperavam de mim”;


  2. “desejaria não ter trabalhado tanto”;


  3. “desejaria ter tido a coragem de expressar meus sentimentos”;


  4. “desejaria ter ficado em contato com meus amigos”;


  5. “desejaria ter-me permitido ser mais feliz”.



No livro, Bronnie escreve: Se fôssemos capazes de encarar nossa própria morte inevitável com aceitação honesta, antes que chegássemos a esse ponto, então mudaríamos nossas prioridades bem antes que fosse tarde demais. Isso nos daria a oportunidade de empregar nossas energias, então, em objetivos de real valor. Uma vez que soubéssemos do tempo limitado que nos restaria […] seríamos mais guiados pelo que nosso coração realmente quer.


Dos cinco “arrependimentos”, o que mais me toca é o primeiro. A autora afirma que este é o lamento mais citado pelos pacientes terminais. Eles afirmam que viveram uma vida voltada para atender a expectativa dos outros, para corresponder aos que os outros esperavam deles, para se enquadrar em padrões sociais, culturais e familiares. Enfim, eles se lamentam por não ter tido a coragem de viver uma vida verdadeiramente direcionada para sua felicidade e realização.


Segundo a autora, são comuns as histórias de pessoas que não trabalharam no que gostariam de trabalhar, que não ficaram com a pessoa que gostariam de ficar, que não se assumiram como realmente são e nem viveram do jeito que gostariam de ter vivido.


No final de tudo, no leito de morte, o que fica é um grande arrependimento.


Convido você a ouvir o episódio “141 – O que estamos fazendo da nossa vida?”, do podcast “Autoconsciente”, de Regina Giannetti, onde ela comenta e explora os 5 arrependimentos citados no livro de Bronnie Ware.


Eu e “meu amigo” gato na trilha do Vale Europeu, em 2020

SEM TEMPO PARA PERDER TEMPO


O livro “Essencialismo – A disciplina da busca por menos” de Greg McKeown, desperta um outro conceito que geralmente nos passa desapercebido. O texto a seguir são fragmentos selecionados entre as páginas 91 e 93.


Quando criança ninguém nos ensina a brincar; pegamos o jeito de forma natural e instintiva. Recorde a alegria pura de um bebê quando a mãe brinca de esconder o rosto e tornar a revelá-lo.


No entanto, quando crescemos, algo acontece. Somos apresentados à ideia de que brincar é algo trivial, uma perda de tempo, desnecessário e coisa de criança. Infelizmente, muitas dessas mensagens negativas vêm do mesmo lugar onde a brincadeira e a criatividade deveriam ser mais estimuladas e não sufocadas.


A palavra “escola” vem do grego skhole, que significa “lazer”. Mas nosso moderno sistema escolar, nascido na Revolução Industrial, removeu o lazer – e boa parte do prazer – do aprendizado.


A ideia de que brincar é trivial continua conosco quando nos tornamos adultos, e se entranha ainda mais quando começamos a trabalhar. Infelizmente, pouquíssimas empresas e organizações promovem a brincadeira, e muitas sabotam essa atividade lúdica sem querer.


Nada disso deveria nos surpreender. As empresas modernas têm suas origens nos moldes da Revolução Industrial, quando o único objetivo era otimizar a produção em massa de mercadorias. Além disso, os primeiros gestores buscavam inspiração nas forças armadas, uma instituição que nada estimula a brincadeira (na verdade, ainda hoje a linguagem militar é forte nas empresas; é comum falar de funcionários da linha de frente, e a própria palavra “companhia” designa uma unidade militar). Embora a era industrial tenha ficado para trás, esses costumes, estruturas e sistemas continuam impregnados na maioria das empresas modernas.


Eu me vi completamente no capítulo 7 do livro.


Reconheço e confesso que, com o passar do tempo, eu fui me tornando uma pessoa mais séria, mais mal-humorada, “sem tempo para perder tempo” com brincadeiras, diversões, passatempos, hobbies e lazer. Este foi um processo evolutivo, natural e instintivo.


Acredito que isso acontece com a maioria das pessoas em função da crueza da vida. Aceitemos ou não, vamos nos tornando mais rabugentos e menos espontâneos ao longo dos anos, nos moldando em um modelo de adulto instituído pela sociedade.


No mesmo capítulo 7, o autor explora o valor da brincadeira na vida e isto revolveu os meus conceitos sobre “levar a vida de forma mais divertida e leve”. No livro é dito que brincar expande a nossa mente, permitindo o surgimento de novas ideias e o repensar de antigas ideias sob um novo olhar. A atividade lúdica nos torna mais questionadores, mais antenados com as novidades, mais empenhados, além de desenvolver habilidades cognitivas. Quando brincamos, levamos nossa criatividade para um nível superior, imaginamos situações e fazemos conexões além dos limites tradicionais, aumentando nosso potencial e expandindo possibilidades. Brincar estimula tanto as partes do cérebro envolvidas no raciocínio lógico e meticuloso quanto na exploração irrestrita e despreocupada.


Aí surge a pergunta óbvia: por que não brincamos mais?


Não considere o conceito de brincar apenas no viés de “brincar como criança”. Expanda o conceito.


Pense em “brincar” como “viver uma vida” mais prazerosa em termos de lazer, de bem-estar, de incentivar o seu lado criativo, de alimentar o espírito, de ser menos rigoroso com as coisas, de ser menos lógico e racional, de se permitir ser menos disciplinado, de ser um pouco inconsequente e tirar proveito quando as coisas não acontecem do jeito que planejamos. Enfim, pense em “brincar” como levar a vida de forma mais leve e bem-humorada.


Podemos expandir mais ainda o conceito de “brincar”, conectando-o às descobertas de Bronnie Ware.


Pense em “brincar” como viver uma vida mais voltada para si mesmo(a), direcionada para alimentar suas vontades e sonhos, em expor os seus sentimentos de forma mais corajosa e espontânea para as pessoas a sua volta, de trabalhar menos, de dedicar mais tempo para estar com os verdadeiros amigos, de ser mais feliz e espontâneo.


“Amiguinho” na trilha do Vale Europeu, SC, em 2020

AS PERGUNTAS FUNDAMENTAIS


Os conceitos de vida essencialista que encontrei no livro de Greg McKneown, que vão muito além do “conceito de brincar” descrito no capítulo 7, se apresentaram incrivelmente complementares aos conceitos que aprendi nos livros de Patrícia Calazans e Bronnie Ware.


A conclusão deste enredo, criado em cima destes livros, é que não basta apenas pular para fora da panela de água fervente, mas ter consciência do que fazer quando se está fora, e ter a coragem para agir.


Dito de outra forma: não basta apenas atuar sobre o que não se deseja, mas descobrir o que se quer.


É preciso elaborar respostas para perguntas fundamentais:


  1. Como tornar a minha existência mais saudável e virtuosa?

  2. O que é a real felicidade para mim?

  3. Como me tornar um ser humano melhor?

  4. O que realmente faz a vida valer a pena?

  5. O que alimenta a minha alma?


Estas são as minhas perguntas fundamentais. Quais são as suas? Já pensou nisso?


Não procure nas outras pessoas as respostas para as suas perguntas, porque não necessariamente elas terão as melhores respostas para as suas questões existenciais. É preciso que você mesmo as encontre. Para isso, provavelmente você terá que mudar a sua agenda pessoal.


Situação na trilha de Cora Coralina: secura e muito calor, GO, 2022

A MINHA HISTÓRIA


Ao viver o luto da minha vida profissional (iniciado em 2020) eu me deparei com a incômoda sensação de “estar fora” da sociedade ativa e produtiva, de não estar produzindo algo para alguém, de não ter que acordar cedo para trabalhar, de estar “menos sério” com coisas importantes e de não ter uma agenda diária pesada.


Enfim, eu me sentia improdutivo e inútil. No início, conviver com estas sensações, foi uma imensa tortura.


Iniciei um período de auto-observação e autodesenvolvimento. Institivamente, dentro de minha mente, eu comecei a questionar alguns dogmas da sociedade, a contestar expectativas criadas pelas pessoas ao meu redor e a ressignificar alguns valores pessoais que sempre levei dentro de mim. No meio deste processo, surgiram descobertas.


Uma das minhas revelações mais importantes foi descobrir que alguns conceitos incutidos na minha cabeça (pela sociedade em geral: escola, empresas onde trabalhei, família, amigos etc) estavam equivocados. Estou falando de concepções que tangenciam áreas importantes da vida como: “a importância do sucesso profissional em nossas vidas”, “o trabalho comandando as nossas decisões de vida” e “ter uma agenda diária produtiva”. Enfim, são muitos conceitos e não pretendo explorá-los aqui, mas o fato é que ao questionar tais compreensões, eu descobri que a minha sensação de “incompletude de vida” tinha origem exatamente aí.


Ao longo desta fase de devaneios mentais, um amigo falou que eu estava vivendo um sabático. Adotei a ideia! E assumi, comigo mesmo, que o meu objetivo com o sabático seria mudar o curso da minha vida.


O sabático não seria apenas um período de questionamentos e descobertas, mas também de decisões de vida.


A minha agenda diária passou a ter foco no meu autodesenvolvimento, no meu bem-estar, no cuidar da minha saúde, no semear hobbies, no despertar do meu lado criativo, em desenvolver a minha dimensão espiritual, em fazer o que eu gosto e no meu prazer. Eu passei a ter controle total sobre as horas do meu dia… e da noite. Passei a estabelecer limites para algumas coisas e soltar as amarras para outras.


Inconscientemente, eu fui ficando mais leve. A minha vida foi se tornando mais minimalista porque coisas foram perdendo o valor e importância. E aqui falo de coisas materiais e imateriais. Por outro lado, pequenas coisas e experiências frugais passaram a me dar mais prazer, ganharam valor na minha rotina. Me joguei em atividades que me tiraram do lugar comum e me transformaram (e continuam me transformando) como ser humano (quase todas descritas nos artigos do meu blog). Criei “alguns problemas para mim mesmo”, no intuito de me forçar a sair do lugar. Cuidei de alimentar continuamente este movimento e rebalanceamento de vida. Defini fronteiras e expectativas corretas para minha dimensão profissional e de trabalho. A ascensão da minha qualidade de vida interior foi evidente e me sinto feliz por continuar nesta jornada.


Sinto que a minha vida está mais prazerosa e mais lúdica, quando comparada ao meu passado. Encaro os fatos com mais leveza e resignação. Estou brincando mais com os fatos da vida. Meu lado criança despertou e cuido de nutri-lo todos os dias. Me tornei “menos sério” e continuo evoluindo neste novo jeito de ser.


Nem tudo são flores. Nestes últimos anos, meu pai faleceu de covid, sofri um estelionato duríssimo, perdi documentos e cartões durante uma viagem ao exterior e vários outros reveses. Enfim, dificuldades aconteceram, mas incrivelmente passei por tais situações com suavidade, frescor e aceitação. Vivi o meu lado estóico e aprendi com isso.


Expedição ao Monte Roraima, Venezuela, em 2023

O “EU” NA FRENTE DE TUDO


Ao pular fora da panela, eu não apenas me descobri fora do calor torturante da água fervente e das paredes limitantes da panela, eu me descobri em um mundo completamente novo, de possibilidades infinitas.


Entendi que pular fora da panela foi apenas um movimento, mas não suficiente para ressignificar a minha vida e torná-la mais digna, virtuosa e plena. Foi preciso mais. Foi preciso olhar para dentro profundamente, colocar o “eu” na frente de tudo, compreender que a verdadeira vida está dentro de mim e não no que está fora, ter coragem para fazer escolhas e agir.


A vida que levamos é a imagem projetada dos nossos próprios pensamentos.

Eu apenas consegui alcançar esta evolução porque priorizei o “tempo para mim”. Infelizmente, a maioria de nós não tem tempo para momentos de reflexão, de introspecção, porque ocupamos todo o nosso tempo, preenchemos os momentos que poderíamos pensar na vida, com conteúdo e atividades diversas. A gente não apenas lava louça. A gente lava louça ouvindo podcasts. Assistimos um filme trocando mensagens pelo celular. Nos ocupamos o tempo todo sem dar espaço para elaborarmos nossas questões existenciais. Convido você a ouvir o episódio “142 – O sentido que damos à nossa vida”, do podcast “Autoconsciente”, de Regina Giannetti, onde ela explora este conceito de “tempo para nós mesmos”.


Tornar a vida mais leve e divertida exige um repensar de conceitos e valores, talvez até de prioridades. Este despertar pode acontecer a qualquer momento. Não importa a idade. O importante é ouvir o clamor que vem dentro, aceitá-lo, supri-lo de alimentos para ele florescer.


Eu estou com 63 anos, em plena juventude. Parte desta sensação de juventude vem do espaço que dei para minha criança interior ocupar espaço no meu dia a dia. Ela está sempre presente, sempre de mãos dadas comigo. Acho que ela comanda a minha vida.


Este artigo foi escrito tendo por base os livros “Revolução Sistêmica” de Patrícia Calazans, “Antes de partir” de Bronnie Ware, e “Essencialismo” de Greg McKneown. Recomendo muito! Também recomendo o podcast Autoconsciente, de Regina Giannetti, que sempre provoca reflexões de alto valor na alma dos ouvintes.


Muito obrigado, Bronnie, Greg, Patrícia e Regina.


Todos nós temos as velas e o leme da vida ao alcance das nossas mãos, a questão é que muitas vezes não estamos certos do norte que buscamos. Porém, mesmo quando sabemos do norte, quase sempre não temos a coragem necessária para assumir o comando e redirecionar o veleiro de nossa existência.




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