Dia 23 de fevereiro de 2017 foi um dia de grande alvoroço na firma onde trabalho… hahahaha… a firma onde trabalho é a IBM Brasil. Nesse dia a companhia publicou um vídeo muito divertido e surpreendente. Sabe aquele negócio de “queixo caído”? Foi isso que aconteceu.
Bem, confesso que meu queixo não caiu nesse dia porque eu fiz parte da criação e produção do vídeo, portanto eu já sabia do que seria veiculado. Mas meu queixo e o corpo todo já haviam caído bem antes, quando o pessoal veio falar comigo sobre o que estavam planejando. Inicialmente achei muito ousado, mas depois divertido. Fiquei realmente surpreso quando entendi todo o projeto.
O vídeo tem uma mensagem simples: o código de vestimenta, ou “dress code”, foi implodido na IBM Brasil. Não existe mais! Que descanse em paz! Agora o que vale é bom senso… vale cada funcionário com sua individualidade, seus critérios, seus gostos, suas preferências, sua sensatez e com seu respectivo desconfiômetro ligado em nível máximo.
Reconheço que o antigo dress code já estava morto há muitos anos. Ele falava em uso de jeans somente nas sexta-feiras. Dá até vergonha de lembrar.
A abolição da escrav… ooopps, do dress code, não foi a única surpresa. Claro que a decisão de abolir o dress code foi o grande lance, mas o pacote completo foi uma espécie de combo, ele veio com três super surpresas. A empresa poderia ter comunicado a novidade mandando um email simples para todos, com um texto bonito, bem escrito, atéinstitucional, mas fez diferente escolhendo um caminho nada tradicional.
A primeira surpresa foi a forma bem humorada, inovadora, de comunicar a decisão da empresa. O vídeo não foi apenas criativo e fora de padrão, mas também surpreendeu ao colocar os funcionários como os porta-vozes da notícia, de um jeito informal, natural e engajador. Certamente a linguagem usada não foi usual e veio carregada de mensagens simbólicas. Se o dress code foi abolido e a autonomia e responsabilidade estão delegadas aos funcionários, então nada mais natural que a comunicação dessa novidade fosse dada pelos próprios funcionários.
A segunda surpresa foi o canal de comunicação. O vídeo foi publicado no blog interno da Diretora de RH da IBM Brasil, Chris Berlinck, por ela própria, incentivando as pessoas a se pronunciarem sobre a novidade. Ao fazer isso, ela ligou o para-raios para coletar as reações de toda a organização, composta de milhares de funcionários, com todos os riscos e benefícios de levar um tema polêmico ao escrutínio público. No mesmo dia da publicação, o post já tinha alcançado mais de 10 mil views e mais de 500 comentários, registrando um nível de entusiasmo, engajamento e energia que transformou esse dia 23 num dia mágico.
A terceira surpresa foi a transparência e a assertividade da mensagem. As bermudas estão liberadas. O conforto está autorizado. Os gostos pessoais e individuais serão respeitados. Não tem meio termo e bola dividida. Teve dúvida? Veja o vídeo, siga as Dicas da Camis, que é uma parte do vídeo onde uma funcionária dá dicas no estilo Glória Kalil. O Dicas da Camis, que dura 50 segundos no vídeo, deu tão certo que a empresa está analisando se vale a penar criar um programa a partir dessa ideia ao longo do ano, funcionando como um canal bem humorado para abordar as eventuais dúvidas e dilemas que certamente vão aparecer nas próximas semanas e meses.
A adoção do “NO DRESS CODE” foi imediata. No dia seguinte à comunicação, os escritórios da IBM foram inundados de pessoas felizes, muitas de bermudas, de roupas leves, sapatos confortáveis, mostrando seu individualismo, seus gostos… e até algumas camisas de Super Homem. Um amigo sugeriu chamar o dia 23 de “Bermuda Day”. Achei divertido. Apesar do “NO DRESS CODE” ir muito além da liberação do uso de bermudas, não tem como não admitir que a bermuda virou o símbolo de tudo isso.
Isso não é pegadinha, não é jogar pra torcida e não tem nenhuma segunda intenção por trás dessa decisão. A empresa sabe que excessos vão acontecer, sabe que vai ter que gerenciar situações complexas, dilemas onde a razão estará no fio da navalha, percepções diferentes sobre o que são bom gosto e bom senso. Mas essa atitude e decisão foram pensadas, discutidas, vistas como algo intimamente conectadas à jornada de transformação cultural da companhia. O time executivo, especialmente a liderança de RH, não tomou a decisão olhando o dia de hoje, mas abraçou a causa olhando a linha de chegada, o futuro.
O dia do lançamento do “NO DRESS CODE” foi inesquecível, foi daqueles dias emblemáticos que lembraremos no futuro como um dia de mudanças. Uma decisão, aparentemente simples, que terá impacto no clima e que evidencia a transformação real de uma empresa que se propõe a mudar o tempo todo. Me lembrou Neil Armstrong ao pisar pela primeira vez na Lua: “Um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade”.