Desde que começou a doença da Regina, nós nunca nos escondemos e nunca nos furtamos de dividir nossa vida com a família, amigos e colegas de trabalho. Eu sempre fui muito mais eloquente e falante a respeito. A minha amada também falava, mas quando era estimulada a falar.
Incrivelmente a Regina trabalhou durante toda a sua doença. O último momento ocorreu quatro dias antes de sua partida. Com dificuldade, ela conseguiu sentar para trabalhar durante longos quinze minutos. Ela fez um croqui de um projeto. Ela amava arquitetura. Em seus mais de três anos de tratamento, ela conduziu dezenas (muitas dezenas) de projetos. Ainda mais surpreendentemente, muitos clientes nem souberam ela tinha câncer.
A partir da publicação do post “Em busca de um propósito”, e dos seguintes, a minha caixa de mensagens explodiu, especialmente com mensagens recebidas no Linkedin e por email. Parece que a minha história tocou a alma de algumas pessoas... de muitas pessoas. Nessas mensagens, pessoas desconhecidas me contam, de forma espontânea e emocional, as suas angústias e jornadas. Muitos me mandam mensagens de agradecimento.
As mensagens vêm de todos os lugares do Brasil, até do mundo. Muitas são histórias incríveis, com enorme carga emocional. Consigo, de alguma maneira, ter grande compaixão pelas experiências que as pessoas compartilham comigo. Aprendo com elas, me emociono com elas, e vejo que toda a gangorra de sentimentos que apareceu após a partida da minha amada, também se repete pelo mundo afora, carimbando muitas histórias extraordinárias de pessoas comuns, como eu.
Sabe aquele vizinho do seu lado que as vezes você não dá bola? Ele pode estar vivendo uma história extraordinária.
Conhecer outras histórias me faz bem. Não somente por me dar conforto, mas também para me dar consciência que muitos outros seres humanos estão passando por suas experiências e aprendizados. Ou seja, trate de sacodir a poeira e viver a vida. Não recebo somente histórias, mas conselhos, pontos de vista, e principalmente solidariedade. Como é bom receber carinho, esperança e incentivo. Analisando essas histórias, eu vejo que não existe cartilha ou caminho certo. Tudo é muito pessoal e individual.
Enfim, na minha caixa de entrada de emails, misturado com contas a pagar, notícias do cotidiano e spams, recebo mensagens mágicas que são pepitas de ouro. Trato isso como o escurinho no cinema, aquele momento só meu.
Agradeço a todos que me mandam mensagens. Peço desculpas pois muitas mensagens eu não consigo responder, mas leio tudo, com atenção integral. As vezes demoro a ler, porque quero estar em paz, com a mente e coração devidamente dedicados ao escurinho dos meus emails.