Aos 63 anos, após uma grande guinada na minha vida, emergiram novos mandamentos, hábitos e condutas para a minha existência. Dito de outra forma, é uma FILOSOFIA DE VIVER, aprimorada ao longo do tempo, com pitadas de uma nova visão do meu universo.
É mais ou menos como uma pedra que rola no fundo de um rio, que vai sendo lapidada naturalmente pelas corredeiras e pelo bater em outras pedras, conforme o fluxo e a intensidade das águas a que ela se submete. Com o passar do tempo, e ao longo do curso de água, a pedra vai ficando mais arredondada, mais lisa, mais brilhante, mais preciosa… e única. Igual a mim.
1- Gratidão é a minha palavra da vida. Agradeço a tudo e a todos o tempo todo. Tudo que acontece na minha vida é uma oportunidade para meu desenvolvimento e aprendizado. O que é ruim, no fundo é sempre bom.
2- Tenho consciência de que a decisão de viver o dia de forma leve e feliz é exclusivamente minha, das minhas escolhas e das minhas atitudes e reações perante os fatos da vida. Não posso escolher as circunstâncias externas de minha vida, mas sempre posso escolher a maneira como reajo a elas.
3- O mundo exterior é a projeção do meu interior, portanto eu sou o gerador de tudo que me acontece. Eu sou o responsável por atrair para mim as situações que vivo. Eu não sou vítima inocente do destino, sou o criador e o causador do meu viver.
4- Após décadas, finalmente, eu me coloquei como prioridade em minha vida. Estou até um pouco mais egoísta. Comecei a me curtir e a me amar!
5- Eu sou a minha melhor companhia! Fico muito bem sozinho. Estar comigo mesmo durante um tempo é a melhor coisa na vida e me deixa imensamente feliz. Estou aprendendo a meditar e a respirar. Isto me reequilibra internamente.
6- Estou esvaziando meu ego. Não preciso me provar para ninguém, apenas para mim mesmo, sem expectativas, pressa ou cobranças.
7- A minha felicidade está nos detalhes, nas pequenas coisas e nos pequenos fatos que quase todos julgam irrelevantes e frugais. Estou reaprendendo a olhar tudo ao meu redor, de forma mais doce e generosa. Isto me parece qualidade de vida.
8- Adotei o minimalismo e a simplicidade. Bens materiais haviam se tornado um estorvo ao longo do tempo, me geraram apego e me limitavam. Esvaziei a minha mochila da vida. Estou mais leve para caminhar mais longe.
9- Não tenho mais vergonha dos meus sentimentos e emoções. Não preciso ser mais durão e hoje aprecio minha fragilidade e minha vulnerabilidade. Choro dentro do cinema numa boa.
10- Gosto de me aproximar de pessoas diferentes de mim, em vez de me afastar, como antigamente eu fazia. São as pessoas diferentes que me fazem evoluir e repensar meus vieses e preconceitos.
11- Aprendi que as coisas não precisam ser do meu jeito, nem tudo precisa estar perfeito ou estar certo. Isso significa não impor as minhas vontades, manias e padrões para as pessoas que estão ao meu redor, muito menos julgá-las, recriminá-las ou corrigi-las. Tê-las ao meu lado, compartilhando comigo os seus jeitos de viver, é muito mais valioso.
12- Sorrir faz bem. Vivo sorrindo, elogiando e agradecendo as pessoas por tudo que elas me oferecem. Isso ocorre de forma natural, espontânea e generosa.
13- Uso e abuso em pedir desculpas, mesmo quando não é preciso. Humildade e reciprocidade aproximam e rompem barreiras.
14- Meu conceito de produtividade mudou. Em vez de fazer várias coisas ao mesmo tempo, hoje eu faço uma coisa de cada vez, sem pressa e sem angústia em rapidamente terminar uma atividade para poder iniciar outra.
15- Ninguém mais depende de mim. O peso de ser “o provedor” da família era uma ilusão e algo que eu não conseguia me desapegar. Enfim, me desapeguei por completo! Fiquei mais leve… e os outros também.
16- Não tenho mais ansiedade quando não estou informado sobre as últimas notícias ou não sei sobre algo. Apenas aceito a minha ignorância. Me desprendi das redes sociais e dos noticiários.
17- Não preciso ter ponto de vista sobre todas as coisas do mundo e nem estar em um dos lados nos campos de batalha. Não me preocupo mais com isso. Me sinto livre ao dizer: não conheço muito bem sobre este tema e não tenho opinião a respeito.
18- Aprendi que somos seres de pura energia. Quando me sinto em um ambiente de má energia ou me aproximo de alguém que não me faz bem (mesmo que eu não consiga explicar o que estou sentindo), eu apenas me afasto e deixo a pessoa seguir o seu caminho.
19- Prefiro trabalhar e me relacionar com pessoas boas, bem-intencionadas, genuínas, que espalham boa energia e geram conexão, do que com profissionais super experts mas que não se conectam, que não são humildes e nem criam um clima positivo. Enfim, prefiro me cercar de pessoas boas e do bem, mesmo elas que não sejam (ainda) craques.
20- Não decido mais as compras pelo menor preço e nem sempre busco a melhor negociação. Decido por comprar de pessoas e empresas que eu confio e que me respeitam. A minha decisão não é mais sofrida, agora é prazerosa, baseada na admiração e na confiança.
21- A minha modéstia desmedida me impedia de reconhecer que tive uma carreira profissional de sucesso e que ajudei a construir uma família bacana. Neste sentido, eu mesmo me sabotava. Agora admito que fui (e sou) um excelente profissional e um pai/marido/filho exemplar, responsável e generoso. Penso assim, mas ainda tenho dificuldade para falar com as pessoas. Estou treinando isso.
22- Ler livros, consumir conteúdo que me ajudam a entender o universo e a vida, viver experiências diferentes, tudo isso virou alimento para esta nova fase de minha existência… quase uma obsessão.
23- Continuo escrevendo cada vez mais. Escrever é uma catarse e uma forma de organizar meus pensamentos e ideias. O objetivo é sempre escrever para mim mesmo.
24- Passei a respeitar o meu corpo cansado. Não luto mais com meu sono, em qualquer horário do dia ou da noite.
25- Parei de falar “no meu tempo”, “na minha época” e “quando era jovem”. Não me dou bem com saudosismo. O importante é estar presente no presente. O meu tempo é agora.
26- Aprendi que Corpo, Mente (alma) e Espírito são os pilares da minha existência. Eles precisam estar em sintonia e harmonia. Todos requerem cuidado e por isto invisto no desenvolvimento de cada pilar, adquirindo conhecimento e praticando.
Quando terminei de escrever os itens acima, me peguei pensando em como eles foram sendo desenvolvidos ao longo do tempo e sendo assimilados ao meu dia a dia.
Inicialmente, pensei que a maioria era fruto apenas de meu tempo de vida e minha maturidade. Certamente a idade tem impacto nisso, mas tudo foi muito acelerado pela grande ressignificação de vida que fiz nos últimos anos, em função do que vivi e experenciei, conforme já contado e recontado no meu blog.
Quando vivemos algo forte e impactante, quando estamos abertos e aceitamos o fluxo da vida, quando vivemos integralmente os fatos e aprendemos com eles, tudo isso nos transforma, nos potencializa, nos jogando diante de portais de possibilidades infinitas. Atravessar, ou não, cada um destes portais, é o grande lance. Ou você se transforma e sai diferente, iluminando-se, ou você dá meia-volta, tornando-se vítima do destino, não evoluindo e aceitando seu ocaso e escuridão.
Estudo, aprendo, me observo, evoluo, mas continuo sendo um mistério para mim mesmo
A inspiração para este artigo veio de uma curta publicação que li na City Magazine que cita pensamentos e a sabedoria de Anthony Hopkins.
Sou admirador de Anthony Hopkins como ator. Alguns de seus filmes são impactantes e inesquecíveis. Impossível não lembrar da intensidade e dramaticidade nos conhecidos “Silêncio dos Inocentes”, “Hannibal” e “Dois Papas”.
Pesquisei mais sobre Anthony Hopkins, buscando descobrir sua jornada de vida e entender como foi forjada sua carreira e sabedoria. Me deparei com um excelente (e longo) artigo no El País datado de 2021, chamado “A desconhecida vida de Anthony Hopkins, o vencedor do Oscar 2021 que aprendeu a ser feliz aos 75 anos”. Vale ler. O artigo surpreende porque conta uma carreira cheia de marcos, conquistas, fracassos e uma vida pessoal atormentada e complexa. Definitivamente Anthony Hopkins teve uma jornada pessoal tão emocionante quanto alguns de seus filmes.
Por mais que eu me observe e me estude, o tempo avança e eu cada vez me reconheço menos no meu corpo. Me pergunto todos os dias: afinal, quem eu sou?