Paulo Cesar é um jovem profissional que todos consideram brilhante. Há dois anos ele assumiu um novo desafio, mudou de emprego e de cidade. Em menos de um ano ele obteve resultados extraordinários. Então recebeu uma proposta de trabalho de uma empresa concorrente, oferecendo uma posição superior e remuneração significativa. Ele não resistiu e aceitou, mudando de emprego. No final do ano passado, Paulo Cesar completou um ano neste trabalho, sendo reconhecido, mais uma vez, como excepcional profissional. E, novamente, surgiu uma nova organização na sua frente oferecendo para ele uma nova posição, em outra cidade. Ele aceitou!
A HISTÓRIA DE PAULO CESAR
O que vou contar tem por base uma história real. Troquei o nome da pessoa para preservá-la. Paulo Cesar mudou de emprego três vezes em pouco mais de dois anos. Ele é meu mentorado nas minhas sessões de mentoria gratuita e voluntária no Leading Zone.
Quando converso com Paulo Cesar, eu sinto a eletricidade no ar. Ele não é carreirista, não me parece ambicioso por cargos, mas é sedento por novos conhecimentos e experiências. Ele se alimenta de desafios e de coisas novas. Entrar no desconhecido é algo vital para a sua motivação e energia.
Parece que segurança, rotina e previsibilidade não são elementos que o alimentam, por outro lado, necessidade de superação e desconforto criam o stress contínuo e envolvente que ele precisa para se sentir motivado. ]
Paulo Cesar pensa no hoje, mas sua mente não para de pensar em um futuro diferente… todos os dias. Ele nunca viajou para fora do país, não domina ainda o inglês, mas eu tenho certeza de que ele viajará e trabalhará mundo afora. Ele está predestinado a ser tornar um cidadão global. Ele se reconhece como hiperativo e insatisfeito inveterado, sabe que está sempre buscando algo a mais para saciar sua fome pelo desconhecido.
Qualquer um, ao ler tudo que descrevi acima, avaliaria Paulo Cesar como um profissional diferenciado, ambicioso e com potencial para construir uma linda carreira. Porém, nem tudo são flores: ele não se sente uma pessoa completa, não se sente em paz e nem vivendo uma vida plena. Enfim, tem algo errado na vida de Paulo Cesar.
Nas minhas sessões de mentoria, ele pega e solta a caneta dezenas de vezes, muda de posição na cadeira, expande e contrai os braços, agarra a garrafa vazia de água como se fosse beber muitas e muitas vezes, é fácil notar agitação e inquietação, é a tal eletricidade no ar que citei acima.
Ele diz que pensa no trabalho 24 horas por dia, todos os dias. Toda a sua energia interna está direcionada para a sua atividade profissional. Ele parece não relaxar em seu foco pela superação contínua. Como ele trabalha com vendas, ele passou os últimos dois anos batendo recordes, dobrando ou triplicando metas. Agora ele comanda uma equipe, portanto sua atenção está direcionada para liderança de vendas, desenvolvimento de pessoas, gestão de conflitos e processos mais complexos. Seu sucesso não depende mais apenas dele, mas da performance do time. E isso é uma motivação e tanto para ele, pelo menos por enquanto.
Nas minhas mentorias não existem fórmulas mágicas, conselhos prontos ou caminhos predeterminados. Vejo as mentorias como uma oportunidade maravilhosa de conhecer novas pessoas, trocar experiências, debater sobre a vida, construir novos pontos de vista sobre o mundo e, principalmente, fazer novos amigos e amigas. Isso sim é maravilhoso.
Paulo Cesar já é meu amigo, por isso fico muito à vontade de compartilhar com ele o que vem na minha cabeça, de forma intuitiva e instintiva. Durante a minha última conversa com ele, surgiu um insight que pode ser o fio da meada para desenrolar o novelo de vida do Paulo Cesar.
Paulo Cesar tem uma energia interna sem fim que precisa ser drenada em outra atividade diferente do trabalho. Hoje ele vive 100% para o trabalho, não consegue pensar em mais nada porque toda a sua perspectiva de vida está centrada no âmbito profissional. No entanto, este foco excessivo não é capaz de preencher todas as dimensões de necessidades que o ser humano Paulo Cesar clama e precisa.
Como alimentar as necessidades física, criativa, artística, social, espiritual e tantas outras? Fiz esta pergunta para Paulo Cesar e recebi um olhar enigmático e silencioso. Acho que ele nunca havia pensado sobre isso.
E continuei numa sequência de perguntas sem fim: qual o seu hobby? Tem alguma atividade esportiva regular? Gosta de pintar, desenhar, escrever? Já fez meditação? Que tipo de música faz você voar? Como você desconecta a sua mente? Gosta de cozinhar? Participa de algum grupo de atividades não ligadas ao trabalho? Para estas e outras perguntas recebi um “não”, as vezes um “não contundente”, outras vezes um “não acanhado”.
A MINHA EXPERIÊNCIA PESSOAL
Contei para ele a minha própria experiência pessoal, deixando claro que eu só consegui elaborar o que penso hoje muito recentemente. De certa forma, antes disso, eu já tinha consciência, mas só fui mudar e agir por volta dos 50 anos de idade, quando alguma coisa despertou em mim e passou a me incomodar rotineiramente.
Esta minha história está contada em diversos posts em meu blog, recomendo os artigos “Em busca da real prosperidade”, “Em busca de sentido: as fases da vida” e “Se um dia eu me arrepender, que seja de algo que fiz e não de algo que deixei de fazer”.
Atualmente eu tenho três atividades que me alimentam e me fortalecem.
A primeira atividade é escrever rotineiramente. Escrever funciona como uma catarse para mim, exercita minha criatividade e organiza meus pensamentos. No momento em que escrevo, eu tiro coisas de dentro de mim que nem sabia que existem. Acesso partes da minha mente que parecem quase inalcançáveis. Brevemente farei um artigo sobre isso no meu blog, falar sobre meus cadernos e meus posts.
A segunda atividade é minha paixão por trilhas e caminhadas de longo curso, que ajuda o meu físico, desafia o meu corpo, alimenta a minha mente e meu lado espiritual. É uma espécie de meditação e recarga de energia, pura e luminosa. Nos períodos de trilha não tem música, podcasts e notícias perversas do mundo, tem apenas imersão na natureza e bem-estar, o que é realmente incrível, terapêutico e regenerador. Recentemente voltei de um trecho do Caminho de Cora Coralina, em Goiás, percorrendo aproximadamente 140 quilômetros, sendo mais vez uma experiência muito especial. Publiquei fotos no meu instagram.
A terceira atividade são as mentorias, que me jogam diante de pessoas desconhecidas, interessantes, em circunstâncias únicas, me permitindo desafiar preconceitos, valores de vida e perspectivas. Tudo isso faz eu repensar constantemente o meu próprio contexto de vida, redirecionando o meu futuro para me sentir mais pleno como ser humano. A maioria dos mentorados(as) se tornam amigos(as). Paulo Cesar é um bom exemplo.
Entretanto, tem algo mais importante nesta receita existencial, que é a minha companheira de vida na jornada de desenvolvimento que estou construindo. Valéria é meu amor, ela me completa, me recoloca no curso, redireciona o meu caminhar, abre portas e possibilidades. Ela é minha aliada e cúmplice no meu plano de vida, que agora posso chamar de “nosso plano de vida”.
Ter alguém ao meu lado faz tooooooda a diferença, desde que seja alguém que some e amplifique minhas ideias e aspirações, que jogue desafios, que tenha boas ambições, que ame liberdade, que me dê a mão nas estradas sinuosas da vida, que me aqueça nos dias frios e que resplandeça nos dias ensolarados de bonança. Valéria é tudo isso!!!
Paulo Cesar ouviu as minhas histórias com atenção, porém ainda agitado em sua cadeira.
ESPÍRITO DE ASPIRANTE
Contei para ele que certa vez assisti uma palestra do Bernardinho em que ele falou uma frase que grudou na minha cabeça: “para se manter campeão, jamais perder o espírito de aspirante”. Fui atrás disso nas redes sociais e achei um trecho em vídeo de uma entrevista do Bernardinho onde ele conta sobre o conceito de que “para se manter campeão, aprenda a amar o desconforto”.
É quase impossível não fazer o paralelo do Bernardinho com a história do Paulo Cesar. Ele tem o espírito de aspirante, porém, a diferença é que Paulo Cesar precisa usar o seu espírito nativo de aspirante não apenas no trabalho, ele precisa colocar essa força interna em alguma atividade artística, de criação, esportiva, espiritual, talvez algo social, enfim, algo que permita o despertar de algum talento interno, de algum desejo, que seja de lazer ou, apenas, de relax.
O QUE É PROSPERIDADE PARA VOCÊ?
Quando entro em conversas envolvendo o tema acima, sempre surge uma palavra em minha mente: “prosperidade”. Acho que é isso que todos nós buscamos, da forma mais ampla possível.
Eis a pergunta essencial: O que é a real prosperidade para você?
Será que é dedicar 100% de sua vida ao trabalho e alcançar sucesso profissional? É, pode ser! Mas isso deve valer para um número pequeno de pessoas, a maioria precisa se nutrir de outros alimentos além do trabalho.
Cabe a cada um de nós descobrir que alimentos são estes e plantar sementes ao seu redor. Parece simples! O mais difícil é descobrir quais alimentos precisamos para renovar nosso corpo, mente e alma. Muitas vezes não nos damos tempo e prioridade para isso. Essa é uma viagem de auto-observação e autoconhecimento.
O segundo passo é semear, que significa abrir mão de coisas que nos parecem caras, que drenam nosso tempo, que parecem ser mais importantes para os outros do que para nós mesmos. É um exercício contínuo e crescente de desapego e definição de limites para que possamos investir o tempo em novos alimentos.
O passo seguinte é mais simples, que é colher. Uma vez que algo já está plantado, tudo fica mais fácil, porque o ciclo da natureza trata do processo. Eu ainda estou na fase de semeadura, mas sinto que já estou colhendo também.
Eu repito cotidianamente esta pergunta: O que é real prosperidade para mim?
TRÊS HISTÓRIAS DE VIDA
No LinkedIn nos deparamos com um número sem fim de publicações lindas e maravilhosas sobre trabalho e carreira. Certamente muitas delas são verdadeiras, mas também existem ali muitas histórias que não são genuínas e autênticas. Para cada história bonita que é contada, deve existir outra história de dificuldade e desapontamento que não é citada, descrita e compartilhada. Recentemente me deparei com três publicações que tangenciam o conceito da “real prosperidade”.
No mês passado, Ana Carolina Guimarães publicou um artigo contando a sua história de mudança de vida. Me identifiquei porque ela fala em “crise de meia-idade”, o que provoca um inevitável paralelo com a minha história pessoal. Porém eu não gosto de usar a expressão “crise de meia-didade”, porque acho que eu nunca vivi verdadeiramente uma crise. Prefiro usar a expressão “descoberta de meia-idade”, porque a meia-idade me fez redescobrir e ressignificar o mundo.
Eis um trecho do artigo de Ana Carolina: “Tem horas que é necessário parar, esconder do mundo, mergulhar e mergulhar em respostas. Porém, para encontrá-las você vai precisar ler, assistir a filmes e seriados, ouvir músicas e sair da toca vez ou outra. Lembre-se de tomar banho de cachoeira, rio ou mar, caminhar em um parque, sair na chuva, no sol e no sereno. Dormir, chorar, chorar, sorrir e por último ter MUITA paciência.”
No mesmo artigo, ela cita o livro “Perdas Necessárias”, de Judith Viorst. No livro, a autora afirma que as pessoas reagem à crise da meia-idade de forma muito individual, que todas têm fraquezas e forças desconhecidas. No entanto, se chegarmos a esse ponto decisivo com grandes conflitos não resolvidos, ou com a fase anterior de desenvolvimento incompleta, provavelmente repetiremos as ansiedades e as soluções falhas do passado nas experiências do presente.
Esta parte do texto de Ana Carolina me fez refletir sobre Paulo Cesar. Ele é jovem de sucesso, porém vive uma fase de conflitos internos. O que poderá acontecer se ao longo dos próximos anos ele não encontrar saídas e respostas para as suas insatisfações e questões existenciais do presente?
Recentemente li uma publicação da Alessandra Nahra onde ela comenta duramente uma demissão em massa ocorrida na empresa onde trabalha. Esta foi uma ação corajosa de sua parte, afinal trata-se de um posicionamento público que muitas organizações não gostam, e se tornou mais contundente porque ela própria não foi desligada e continua trabalhando na empresa. De minha parte, o seu post não macula e nem prejudica a imagem que tenho da empresa onde ela trabalha. O que me chamou a atenção foram os importantes alertas que ela fez em seu texto afirmando: “considere dosar o investimento emocional no trabalho” e “não gaste energia botando fogo no parquinho errado”.
Frank Koja, Diretor Geral na Kyndryl Brasil, recentemente, divulgou em seu linkedin uma entrevista que ele deu para Fast Company. Na entrevista ele recebeu a seguinte pergunta: “Qual o conselho mais importante que já recebeu na vida?”.
Eis a resposta de Koja: “Um conselho valioso que recebi é: não sinta vaidade pelo cargo que você tem ou pela função que desempenha. Tudo é circunstancial e não é eterno. Todos os dias, temos que trabalhar com dedicação para manter a entrega no trabalho e nos relacionamentos. O mais importante é quem somos, sem crachá ou perfil profissional. A melhor coisa a se fazer é lembrar de quem você foi. Sempre me lembro do menino que fui, que conciliava os estudos na escola técnica à noite com o trabalho durante o dia. Ele diz muito sobre mim: os seus sonhos e a sua simplicidade. Importa mais o que a gente é do que o que a gente tem.”
Ao ler isso, eu fiz o exercício citado pelo Koja. Me lembrei que, quando menino e jovem adolescente, eu gostava muito de desenhar e pintar quadros (de todos os tipos), escrever contos, estudar astrologia e astronomia, ouvir rock progressivo isolado num canto, jogar futebol, assistir filmes de ficção científica etc. Lembrar destas coisas me faz bem… e desperta saudades de uma fase recheada de inocência e descobertas que não volta mais.
RESGATANDO A VEIA CRIATIVA
Há mais de um ano me deu vontade de voltar a desenhar e pintar. No impulso, comprei uma caixa de lápis de cor e cadernos de colorir. Já fiz alguns!! Adoro!! Em vez de astrologia e astronomia, hoje tenho maior interesse em temas ligados à filosofia e ao comportamento humano. Nos últimos anos li dezenas de livros. Como já disse antes, dedico tempo para escrever rotineiramente. Estou participando de rodas de homens, que são encontros que funcionam como ferramentas de autoconhecimento, partilha e construção de amizades masculinas mais saudáveis. Com estas atitudes, de alguma forma, estou resgatando a minha veia criativa, desenvolvendo hobbies e construindo relacionamentos nutritivos.
Dias atrás, diante do espelho, me peguei com a seguinte pergunta em mente: E se o Mauro do passado pudesse se teletransportar para os dias de hoje para bater um papo com o Mauro do presente? Como seria? Imaginei a cena e sorri sozinho.
Esses Mauros são pessoas muito diferentes. O Mauro do passado não teria tempo e iniciativa de ler livros de filosofia com o interesse e vigor que tenho atualmente.
Lápis e cadernos de colorir? Que loucura é essa? Nem pensar! O Mauro do passado é muito racional e perguntaria: Isso vai ser vir para que? Vai me ajudar a fazer algo melhor? Qual é o benefício?
A SÍNDROME DO ENGENHEIRO
Sou técnico eletricista e eu sou formado em engenharia e análise de sistemas. Trabalhei nestas áreas durante muito tempo. Portanto minha cabeça foi moldada como engenheiro. Fui forjado dentro de uma visão racional, científica e matemática. Por isso sou, essencialmente, um ser com pensamento prático e pragmático. Tendo a ser binário, ou seja, é 1 ou 0, é sim ou não, é assim ou assado. É decidir para seguir. Gosto de planejamento, previsibilidade, ciência e racionalidade.
Para piorar, como trabalhei em grandes empresas, em cargos executivos, esse meu jeito de ser foi amplificado por treinamentos e experiências, todos centrados em conceitos clássicos do mundo corporativo: superação de metas, aplicação de ferramentas complexas de gestão, aumento de produtividade, desconforto contínuo, e por aí vai.
Falo para as pessoas que tenho a SÍNDROME DO ENGENHEIRO, que é pensar a vida com a cabeça de engenheiro: Vai servir para que? Qual é a aplicação? Vai fazer melhor? Vai fazer mais rápido? Já foi comprovado? Tem evidências? A ciência atesta isso?
A síndrome do engenheiro tem a ver com produtividade, aplicabilidade e ciência. Quando impomos esse jeito de ser ao nosso estilo de vida, indo muito além da dimensão profissional, a coisa complica.
Em minha auto-observação, cheguei à conclusão de que o meu “ser engenheiro” é a minha sombra. Quando tive mais consciência sobre isso, eu até tentei combater este meu lado sombra procurando abafá-lo, com a expectativa de destruí-lo completamente. Mas foi pura ilusão, isto está dentro de mim, até inconscientemente. Então, aprendi que não devo combater duramente este “engenheiro sombrio” que me habita, é inútil, mas sim aceitá-lo, reconhecê-lo, “arredondá-lo” e integrá-lo ao meu ser.
Passei a vida convivendo com essa minha cabeça quadrada, exata, racional, produtiva e científica. Hoje trato de trabalhar esse “ser engenheiro” todos os dias, sabendo que as vezes ele tende a me levar para uma direção diferente do que minha alma deseja e sinaliza. Quando desenho, pinto, escrevo, leio filosofia e participo da roda de homens, eu estou nocauteando a minha cabeça de engenheiro!!!!
Lembra-se que falei da Valéria? Ela atua como terapeuta especialista em relacionamentos amorosos e hipnoterapeuta. Ela é sensível, intuitiva, holística, energética, espiritual, aberta para a experimentação. Ela é uma buscadora insaciável do autoconhecimento e do desenvolvimento pessoal. Adora o desconhecido, o imponderável e o inexplicável. Para ela, entre 0 e 1 existe o infinito. A princípio, Valéria parece ser a antítese do engenheiro, mas não é bem assim. Ela tem alguns traços comuns aos engenheiros: é curiosa, questionadora, estudiosa e detalhista. Em várias situações é racional e lógica. Ao me dar a mão todos os dias, Valéria não é apenas a minha companheira de vida, mas também a mais importante mentora na minha jornada de transformação pessoal, me fazendo ser um engenheiro “mais redondo”.
O LADO SOMBRA DAS PESSOAS
Ao pesquisar sobre o “lado sombra” das pessoas, na busca de me conhecer melhor, caí (mais uma vez) no excelente posdcast Autconsciente, de Regina Giannetti. Ela falou sobre isso no episódio “O efeito sombra em nossa vida” – dividido em 3 partes, episódios 90, 91 e 92.
Regina explica que tudo aquilo que rejeitamos, reprimimos, condenamos ou escondemos habita uma dimensão da nossa psique que Carl Jung chamou de sombra. O que está dentro da “nossa sombra” é a causa de muitos dos nossos conflitos, ambiguidades, culpas, dificuldades de relacionamento com os outros e principalmente conosco mesmos. O episódio me ajudou a entender esse meu lado sombra de engenheiro e me sinalizou caminhos para tratá-lo.
Para quem desejar se aprofundar no tema, Regina indica o livro “Como entender o efeito sombra em sua vida”, de Debbie Ford. O livro revela o conflito de duas forças que existem dentro de nós: uma força que nos leva a viver de acordo com os nossos valores, a dar e receber amor e a ser uma pessoa íntegra; e a outra força que nos impede de progredir, que sabota os nossos esforços e nos leva a fazer escolhas que não nos favorecem, num processo de autossabotagem. O livro se propõe a oferecer instrumentos para encontrar a lacuna entre a luz e a escuridão e viver uma vida autêntica.
Eu já escrevi sobre isso com uma abordagem diferente. Gosto da metáfora de que convivo com dois lobos dentro de mim, cada um me levando para uma direção diferente. Eu não consigo eliminá-los, portanto cabe a mim decidir o espaço e o protagonismo que dou a eles em cada momento de minha vida. Esta metáfora surgiu da lenda dos dois lobos, que contei em meu post “Os lobos dentro de mim”. Gosto demais deste artigo e recomendo muito a sua leitura.
O livro de Debbie Ford discorre sobre os diversos tipos de personas que construímos para nós mesmos para encobrimos e combatermos as nossas sombras. Na psicologia analítica de Carl Jung, persona e sombra são opostos. Persona é uma espécie de máscara ou personagem que criamos para nós mesmos.
Ao percorrer os diversos tipos de personas, me deparei com o persona “super realizadora”. Imediatamente pensei no Paulo Cesar, afinal ele é um super realizador. Eis a descrição a seguir:
Persona Super Realizadora Ela se orgulha de sua grande capacidade de realização. Está sempre super ocupada. É super comprometida. Se envolve com vários projetos, atinge objetivos, coleciona sucessos, porém nunca está satisfeita porque tem sempre uma conquista maior a fazer. Stress e ansiedade são altos preços que ela paga por seu perfeccionismo, impaciência e baixa tolerância para com os limites de outras pessoas e os seus próprios. Essa persona busca, inconscientemente, fugir da mediocridade, do medo de se sentir inferior, sem valor e entediada.
Não estou certo se esta persona está 100% aderente ao Paulo Cesar, mas está bem próxima. Quase toda a descrição coincide com a leitura e os sinais apresentados pelo meu amigo.
AULA DE CANTO
Eu e Paulo Cesar temos muito em comum. Me identifiquei muito com o comportamento e as histórias contadas por ele. Passei muito tempo priorizando ao máximo a minha vida profissional, deixando o resto em segundo plano. Creio que Paulo Cesar tem traços evidentes da síndrome do engenheiro, por ter uma existência extremamente lógica, racional e previsível. A grande diferença é que Paulo Cesar está despertando muito mais cedo para a vida do que eu despertei, conseguindo olhar para dentro e identificando insatisfações e questões existenciais que geram dor e angústia.
Dias atrás falei com Paulo Cesar pelo whatsapp. Era um sábado. Perguntei como estavam as coisas. Ele me respondeu que estava se preparando para a sua primeira aula de canto naquele mesmo dia. E emendou dizendo que no próximo mês iniciará um curso de improviso na Escola do Teatro Tablado, no Rio de Janeiro. Ele disse estar muito animado porque estas atividades vão quebrar a sua rotina e serão importantes para ele se reconectar com ele mesmo. E concluiu dizendo que está tentando também se reconectar com algumas pessoas que ele considera importantes, porque se acha muito distante delas. Desejei sorte a ele e disse que fiquei muito feliz com as novidades.
Paulo Cesar está tomando as rédeas de sua vida e procurando novos caminhos. Está mais consciente de que mudanças precisam acontecer para se sentir mais pleno e realizado, se olhando de forma ampla e integral como ser humano.
No dia seguinte pensei em enviar uma mensagem para ele perguntando como foi a sua primeira aula de canto. Até digitei algumas palavras, mas apaguei em seguida. Fiquei na minha. Isso mostraria ansiedade de minha parte e ele poderia se sentir pressionado. Prefiro esperar por notícias espontâneas do meu amigo. Tudo a seu tempo, não é mesmo?
Que a sua jornada seja longa e plena.