No ano passado, ao participar de um debate sobre redes sociais na Futurecom, eu falei que a existência de um guia corporativo sempre ajuda muito no processo de introdução das redes sociais nas empresas. Na época, confirmando que o tema ainda é polêmico e desconhecido nas empresas, eu fui interpelado por alguém que disse que tal guia não faria sentido pois as redes sociais não podem ser reguladas ou controladas. Expliquei que um guia não tem o objetivo de instituir regras ou procedimentos de controle das redes, mas sim apresentar recomendações que os funcionários devem procurar seguir quando atuam nas redes como profissionais da empresa. Estas orientações incluem formas de se identificar nas redes, como tratar as informações, questões de imagem e reputação, como falar sobre a empresa, etc. Enfim, são de natureza profissional, apesar que sabemos que nas redes sociais o limite entre o pessoal e o profissional é muito tênue.
Dias atrás, também numa conversa sobre o mesmo assunto, alguém disse algo assim: “na minha empresa a gente não precisa disso, afinal os acesso às redes está proibido”. Como não precisa? Os funcionários não acessam às redes sociais fora do expediente do trabalho? Muitos chegam em casa e já se conectam nos “orkuts da vida”. Muito deles escrevem nas redes sobre o seu trabalho diário, falam da empresa onde trabalham, opinam sobre áreas onde a empresa atua, etc. Ou seja, eles atuam como porta-vozes da empresa, mesmo sem se darem conta disso. Afinal, todos nós somos representantes da empresa onde trabalhamos, estejamos ou não dentro do horário do expediente. Neste contexto, prover orientações para os funcionários de como se comportar nas redes sociais, quando falarem sobre o seu trabalho ou empresa, fazem todo o sentido.
Este é um processo evolutivo e de conscientização. Na verdade, a questão vai muito além das redes sociais, todos nós somos representantes da empresa nas situação mais corriqueiras do dia a dia: quando estamos no telefone conversando com um fornecedor, atendendo um cliente, enviando um email, tomando um chopp no final de semana e comentando sobre assuntos da empresa, etc. As redes sociais são apenas mais um canal de comunicação e relacionamento.
Nesta semana, eu estava conversando com um amigo sobre o poder da influência dos canais tradicionais de comunicação (TVs, jornais, rádios, etc) e da internet nas próximas eleições. A internet é um terreno livre, onde cada um navega e busca o que quiser, é o internauta que determinar o que deseja seguir. Já as TVs e os jornais têm um componente editorial muito forte. É o corpo editorial que determina o conteúdo diário. Exigir independência, equilíbrio e imparcialidade da equipe editorial (repórteres, colunistas, articulistas e editores) deveria ser uma obsessão dos grupos de comunicação de nosso país. Eu comentei com meu amigo que, devido a enorme capacidade de influência na opinião pública, os veículos de comunicação deveriam ter regras de conduta específicas para as eleições para todos os seus funcionários. E não é que hoje, para minha surpresa, o jornal O Globo publicou, em página inteira, um “Estatuto das Eleições” para todo o seu corpo editorial provendo regras editoriais e profissionais para os seus funcionários e jornalistas. Não deixe de ver, é bem interessante. E tem até regras específicas para as redes sociais. Veja AQUI.
Acredito que outros veículos de comunicação devem ter algo parecido, mas a ação do O GLOBO me chamou a atenção. A ação tomada pelo jornal tem o mesmo conceito do guia de conduta nas redes sociais que recomendo para as empresas. Educação, orientação, clareza e transparência são sempre bem-vindos.