Leonardo, 24 anos, foi identificado como um potencial talento da empresa e acabou sendo convidado para participar como ouvinte de uma das reuniões de diretoria. Essa era uma das atividades aplicadas no programa de desenvolvimento de talentos da empresa, cujo objetivo era dar visibilidade e exposição para os jovens selecionados, bem como acelerar seu desenvolvimento.
Leonardo entrou na reunião e ficou ouvindo tudo que rolava. Lá pelas tantas, no meio de uma discussão, o jovem pediu para falar. Dada a autorização, ele apresentou sua opinião com propriedade, convicção e de forma entusiasmada. As colocações de Leonardo foram ouvidas com atenção, evidenciando que eram relevantes. Em nenhum momento ele falou olhando para baixo, pelo contrário, usou o tom certo, foi objetivo e direto ao ponto. No final da reunião, alguns diretores perguntaram quem era aquele jovem de cabelo espetado e barba mal cortada, que falou com voz firme e alterou o rumo da reunião.
Eu saí daquela reunião boquiaberto. Caso existisse um programa desse tipo na minha época, e eu fosse o tal jovem talentoso, provavelmente ficaria quieto e agiria como um ouvinte obediente durante toda a reunião, permanecendo quase transparente. Eu nunca me sentiria à vontade e com coragem para dar uma opinião numa reunião de diretoria.
A entrada da geração Y no mercado de trabalho está agitando as coisas. A era do chefe “sabe-tudo” e do “fala-que-eu-escuto” está descendo ladeira. A geração que chega hoje às empresas quer participar, opinar e contribuir em todas as áreas, independentemente de que departamento ou divisão ele faz parte. Aliás, o nome “departamento” é algo jurássico para esse grupo. Soa mal. Não é por acaso que as empresas vêm abandonando algumas denominações como “departamento” e “divisão”, e surgem termos como área, time e unidade.
É interessante ver o comportamento da geração Y nas reuniões de trabalho. O exemplo que relatei acima é real. Mas o mais legal mesmo é ver a relação dos jovens com o seu chefe imediato. A geração Y não consegue ver o chefe como autoridade suprema e sabedor de todas as coisas. Até porque ele não sabe mesmo. O chefe para ele é um colega mais velho, mais experiente, mas que ainda tem muito a aprender. A área mais evidente onde o jovem tem mais autoridade de conhecimento é a tecnologia. Nós, baby-boomers, que somos chefes em nossas empresas, deveríamos entender que somos aprendizes em certas áreas, como, por exemplo, o uso de mídias sociais, blogs, wikis e outras ferramentas equivalentes. Portanto, independentemente de sua geração, ajude o seu chefe a entender essa nova realidade. Infelizmente, ainda vejo alguns chefe “papai-sabe-tudo” por aí.
Enfim, alguém aí quer me adotar como estagiário?