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Em busca do Eu desconhecido – Aprendizados e desconstruções



Na Praia do Cardoso, Farol de Santa Marta, SC

Dias atrás me deparei comigo no espelho. Estava sozinho em casa e fiquei me encarando. Não é a primeira vez que isso acontece.


Temos um enorme espelho na sala, com mesa e cadeiras em frente, o que me permite ficar confortavelmente instalado na frente dele. Foi isso que aconteceu. Fiquei me olhando, longamente, com um filme da vida rolando dentro de minha cabeça. Perguntas pulavam em minha mente: Quem é esse cara? De onde vem e para onde vai? Quem sou eu verdadeiramente


MUDANÇA DE DIREÇÃO


Nos últimos anos eu venho fazendo uma grande mudança de direção de vida. É uma mudança gradual, mas firme, quase sem volta, o que a torna definitiva. Comparo este meu movimento à uma mudança de curso de um transatlântico no oceano, que é lenta e pesada, porém quando vira, sai da frente porque ninguém segura o transatlântico. O que é diferente de um pequeno veleiro, cuja mudança de curso é rápida e efêmera, e qualquer vento mais forte perturba a direção.


Ao longo dos meus movimentos recentes, eu me indaguei muitas vezes sobre minhas decisões, questionando se o que estava fazendo era coerente com o ser humano que fui ao longo de minha existência. Quase sempre, meu pensamento conclusivo foi: “Está tudo bem. Sou um ser em transformação. Isso faz parte da minha mudança. Siga em frente.”


Duas ou três semanas atrás, ao conversar com uma amiga, ela me contou sobre a sua primeira experiência com a ayahuasca. Eu já contei detalhadamente sobre a minha experiência no artigo “Minha experiência com o Santo Daime”.


Ao contar a sua história, ela me falou o seguinte: “Ao tomar a ayahuasca, pela primeira vez na vida eu me vi na minha verdadeira essência. Pela primeira vez eu descobri quem eu sou de verdade”.

A frase dela “quem sou eu de verdade” me bateu fundo e gerou insights sobre a minha história de vida. Ela me fez pensar sobre os anos vividos e intensificou este “olhar no espelho” que venho vivendo.


Muitos pensamentos desconfortáveis surgiram em minha mente.


A PROCURA DO VERDADEIRO EU


Eu tenho falado que vivo uma frase de transformação e mudança. Será que é isso mesmo? Talvez eu esteja errado nesta leitura! A provocação de minha amiga me gerou uma outra perspectiva sobre isso. Talvez o mais correto seja dizer: “eu sou um ser a procura do verdadeiro eu, em busca de conhecer a minha verdadeira alma, a minha essência, de revelar o que me alimenta e me dá propósito.”


Eu não estou propriamente evoluindo. O que estou fazendo é criando condições e oportunidades para que o meu “EU INTERIOR” desabroche e se expanda, destravando um potencial interno que ainda desconheço. Portanto, eu não estou evoluindo porque A EVOLUÇÃO JÁ ESTÁ DENTRO DE MIM, basta eu dar espaço e condições para ela florescer e preencher a minha existência.


Este insight, filosófico por natureza, significa dizer que passei a minha vida cerceando este meu “ser interior”, limitando sua expansão, SABOTANDO O SEU POTENCIAL, por egocentrismo, pela manutenção de máscaras e personagens criados por mim mesmo, por conta de padrões impostos pela sociedade, por preconceito, por insegurança, pelo medo do desconhecido, por uma vida materialista, por ignorância e por não compreender que a verdadeira vida está dentro de mim e não do lado de fora. Enfim, é muita coisa.


Longe de dizer que a minha vida vivida foi ruim e pouco significativa. Na verdade, ela foi maravilhosa e sinto muita gratidão por isso, porém ela foi moldada em cima de uma visão limitada sobre a vida, mesmo considerando a palavra “vida” no sentido mais amplo possível.


A conclusão que cheguei é que eu não estou em transformação, mas sim em busca do meu Verdadeiro Eu. Apesar de parecer um conceito de pouca importância, isto muda tudo.


Minha sombra – No Caminho de Cora Coralina – Goiás

TRANSFORMAÇÃO E A VIAGEM DA BUSCA


Quando estamos em transformação, a estratégia é idealizarmos algo a ser buscado ou construído. Isso significa olhar para fora e procurar modelos, exemplos, fontes de inspiração, possíveis linhas de chegada, idealizações e por aí vai. Com uma visão concebida, o passo seguinte é planejar e “fazer” o caminho, tendo como objetivo essa visão, que pode até ir se alterando com o passar do tempo.


A busca do Verdadeiro Eu é muito diferente. Não existe uma idealização, mas uma viagem interna, uma busca interior, um mergulho no Eu, em uma tríade de corpo, mente e alma (espírito). Não existe transformação porque não há nada a ser transformado, mas sim algo a ser descoberto.


A TRANSFORMAÇÂO me parece algo relacionado a ANGÚSTIA E ANSIEDADE, pela imposição de que mudar é preciso, de que o estado atual não é suficiente ou pleno.


A BUSCA DO EU é uma VIAGEM DE LIBERDADE, de frescor e de luz, sem um ponto de chegada determinado, apenas um caminhar sempre em frente, onde as coisas vão se descortinando à minha frente, no momento e na intensidade correta. Ao manter coração e mente abertas, a viagem torna-se mais prazerosa, surpreendente e acolhedora. Ao me descobrir de forma progressiva e constante, permito que o Meu Eu ocupe cada vez mais espaço e tempo de minha existência, tornando-me um ser mais pleno e em paz comigo mesmo.


Como disse, este não é um processo de transformação porque não estou verdadeiramente me transformando, mas sim me descobrindo de verdade, tirando as “fantasias” e as idealizações que inevitavelmente existem dentro de mim.


A TRANSFORMAÇÂO é tipicamente um processo de DOR e de DESCONFORTO. Por outro lado, a DESCOBERTA é um processo de SURPRESAS e de ENCANTAMENTO.


Se a Busca do Eu é uma viagem onde o importante é a jornada e não o ponto de chegada, como fazer uma viagem mais intensa, profunda e extraordinária?


Tenho lido e estudado sobre isso nos últimos anos, guiado especialmente pela filosofia. A Busca do Eu está intimamente relacionada a Propósito e Sentido de Vida. Escreverei um artigo sobre isso futuramente, mas, aqui, indico livros extraordinários que recomendo muito: “A Escola dos Deuses” de Elio D´Anna, “Em busca de sentido” de Viktor Frankl, “Essencialismo” de Greg McKeown e “A bailarina de Auschwitz” de Edith Eger. Todos bons livros que expandem a nossa consciência e nos fazem mergulhar na discussão do “sentido da vida”.


Minha sombra – no topo do Monte Roraima – Venezuela

NÃO ESCUTE O SEU VERDADEIRO EU


Diante de tudo que contei, eu estava convencido de que a Busca do Eu era o caminho correto… até assistir um vídeo de apenas 13 minutos, de Luiz Alberto Hanns, Psicólogo, publicado no maravilhoso Canal da Casa do Saber no Youtube (recomendo muito este canal). O vídeo chama-se “Não escute o seu verdadeiro Eu”.


Como assim? Como não escutar o “Verdadeiro Eu”? Eu estou em busca dele! Eu estou certo de que existe um Eu dentro de mim a ser descoberto e que ele é a essência da minha realização e felicidade.


O vídeo derruba completamente a ideia de que temos um ÚNICO E VERDADEIRO EU e cria o cenário de que esta BUSCA DO EU pode não ser uma boa.


Aprendi com Luiz Hanns que o Meu Eu pode ser imaginado em 3 camadas.


A 1ª CAMADA – O EU DAS VONTADES BRUTAS


A 1ª camada do Meu Eu é a camada mais profunda, aquela mais conectada ao meu cérebro reptiliano, intimamente ligada aos meus desejos e vontades. Consigo entender melhor este conceito quando me imagino como bebê, onde eu agia conforme minhas vontades.


Penso neste “Eu da 1ª camada” como o meu lado “mais ANIMAL”, onde emergem as minhas VONTADES MAIS INSTITIVAS E INDIVIDUALISTAS, na forma mais bruta, portanto, muitas delas sendo inapropriadas na sociedade, no aspecto social, ético e comportamental. Este é um Eu dissociado do mundo, das regras e das normas da convivência em comunidade.


Enfim, esta camada não é propriamente um Eu, mas uma camada de desejos, vontades e necessidades, que existe dentro de mim.


A 2ª CAMADA – O EU DAS NECESSIDADES NARCISISTAS


A 2ª camada do Eu se forma a partir de COMO OS OUTROS ME OLHAM. Pessoas ao meu redor ME DIZEM e ME JULGAM conforme as características desse Meu Eu. Conscientemente ou não, esse Meu Eu anseia ser admirado a partir da minha comparação com os outros.


Este “Eu da 2ª camada” carrega uma forte dimensão de PERCEPÇÃO, ou seja, O QUE EU IMAGINO QUE OS OUTROS PENSAM SOBRE MIM. Esta dimensão está muito ligada à necessidade de me sentir amado, de receber aprovação das pessoas e de me sentir reconhecido.


Esta característica, existente em todos nós, provavelmente está muito mais intensa e nociva na era atual, onde as mídias sociais desempenham papel importante em nossa rede de relacionamento.


A 3ª CAMADA – O EU PRUDENTE


A 3ª camada do meu Eu me posiciona e me guia pelos contextos do mundo. É o Eu que avalia as situações a partir de referências. Este Eu não fica apenas na comparação como o Eu da 2ª camada, mas ele coloca tudo EM PERSPECTIVA, CONTEXTUALIZA E PONDERA. É esta camada do Eu que me gera preocupação com a opinião pública a meu respeito, com a minha imagem e como devo me posicionar na sociedade diante das referências que julgo importantes e que valorizo.


Este “Eu da 3ª camada” carrega uma forte dimensão de PERSONA, ou seja, QUEM EU DESEJO SER. Dito de outra forma: o que eu desejo que a sociedade e rede de relacionamento pensem sobre mim. Tem a ver com possibilidade e suposição.


Os meus desejos genuínos e instintivos, que emergem da 1ª camada do Eu, são em parte castrados ou modulados pelos dois tipos do Eu da 2ª e 3ª camadas e, portanto, recalibrados.


A conclusão é evidente: o Único e Verdadeiro Eu é uma ficção! Ele não existe!



O EU TEM MÚLTIPLAS CAMADAS


O Meu Eu tem múltiplas camadas. Ele é composto por camadas sobrepostas, tal qual uma cebola, e são divergentes. Ele é formado minimamente pelo Eu das Vontades Brutas, por um Eu das Necessidades Narcisistas e por um Eu Prudente, que entende, analisa e contextualiza.


Se aprofundarmos o conceito de Luiz Hanns, certamente o Eu-cebola pode ser imaginado com mais camadas, como por exemplo uma camada de crenças e valores, uma camada espiritual etc.


Em resumo: EU SOU A SOMA DOS VÁRIOS EUS, sendo todos relevantes. Todos se influenciam e todos devem ser considerados.


Eu (seja lá o que for o Eu, já pirei aqui!) é quem decido quais Eus devo escutar e privilegiar nas minhas decisões de vida. Escutar apenas uma camada parece ser um enorme potencial de desastre e perigo. Todos são partes do Verdadeiro Eu, todos se somam e se subtraem. Nenhum Eu é tão verdadeiro a ponto de não precisar escutar o outro.


Luiz Hanns aconselha que eu procure construir o Meu Eu a partir de REFERÊNCIAS EXTERNAS, pois tais referências alimentarão e serão uma espécie de farol para que o Meu Verdadeiro Eu seja estabelecido, me permitindo ser mais pleno e feliz. Este quase derradeiro conselho existente no vídeo me fez voltar ao ponto de partida, voltando várias casas no tabuleiro do jogo do Eu, como explicarei mais à frente.


Convido você a assistir o vídeo NÃO ESCUTE O VERDADEIRO EU, de Luiz Alberto Hanns, Casa do Saber



OS 3 MAUROS


No campo dos comentários do vídeo do Luiz no YouTube tem um pequeno post interessante de @marcossantana1627. Ele coloca assim:


• Existe um “eu” que todos conhecem • Existe um “eu” que só eu conheço • Existe um outro “eu” que nem eu conheço



Adorei esta abordagem divertida e fiz um exercício comigo.


Sim! Existe um “Mauro” que todos conhecem. É uma espécie de “Mauro público”, construído com amigos, colegas e familiares a partir de minhas interações e comportamentos. É uma espécie de personagem desenvolvido e mantido por mim. Tentando conectar com os Eus de Luiz Hanns, este seria um Eu formado pela soma das 2ª e 3ª camadas, moldado a partir das minhas referências, dos meus desejos de como procuro viver e ser reconhecido publicamente e pela minha rede de relacionamentos mais próximos.


Existe um Mauro” que só eu conheço. É o Mauro definido pelas minhas percepções internas, o “Mauro” de sonhos podados, dos pensamentos proibidos, que se acha “impostor” por ter uma imagem externa diferente da que é na realidade. É um “Mauro” difícil de ser descrito pois é um “Mauro” interior, que não vocaliza e não existe fisicamente. Fazendo o paralelo com o modelo de Luiz Hanns, este seria um Eu mais próximo da 1ª camada, ou seja, um Eu instintivo.


Por fim, existe um “Mauro” desconhecido. Trata-se de um “Mauro” imprevisível, de potencial ignorado, de talentos e habilidades adormecidas que nunca foram estimuladas ao longo de sua existência. Provavelmente é um “Mauro” muito mais corajoso e ousado do que o “Mauro” conhecido, certamente um “Mauro” mais virtuoso, generoso e sagaz. Como tudo que é desconhecido, este “Mauro” merece e precisa ser explorado. Mas, talvez não seja propriamente isso.


O “Mauro” desconhecido não é um “Mauro” a ser descoberto. Talvez ele seja como uma pedra preciosa retirada em forma bruta de uma mina de diamantes, que precisa ser lapidada para se transformar em algo valioso. Portanto, este “Mauro” desconhecido precisa ser construído a partir dos Eus conhecidos. É um “Mauro” a ser desenvolvido e evoluído.


COMPLEXO DO EU


Nesta viagem dos estudos e aprendizados do Eu, eu reli um artigo chamado “O desafio de se descobrir e ser você mesmo” que eu escrevi há quase dois anos. Lá eu exploro a palestra do TEDx “A arte de ser você mesmo”, de Caroline McHugh.


O que mais me impactou na palestra foi o círculo do “Complexo do Eu”. São círculos concêntricos que moldam os tipos de imagens que fazemos de nós mesmos. Eu me encaixei perfeitamente.


São eles: 1- Percepção: O que os outros pensam sobre você 2- Persona: O que você deseja que os outros pensem sobre você 3- Ego: O que você pensa sobre você 4- Self: O verdadeiro você


Complexo do Eu

Os conceitos apresentados por Caroline McHugh “conversam” brilhantemente com os conceitos de Luiz Hanns e com o conceito dos 3 Mauros, existem “pontes” claras quando analisamos os modelos. Tudo parece se conectar e fazer sentido.


Se você tem interesse em se aprofundar no Estudo do Eu, recomendo fortemente que assista o vídeo de Caroline McHugh abaixo. Vale cada minuto!



PRÓXIMOS PASSOS


A minha primeira conclusão foi que tais conceitos eclipsaram a ideia da existência de um Único e Verdadeiro Eu. A tese da descoberta de um “Eu já desenvolvido dentro de mim” passou a não fazer mais sentido e até me pareceu boba.


A segunda conclusão, aparentemente óbvia, é que é preciso continuar a investir fortemente na minha evolução, no meu DESENVOLVIMENTO INTERIOR e na busca de referências.


Cabe dizer que a busca de referências em pessoas tem que ser muito bem avaliada. Em tempo de mídias sociais, onde muitos acompanham a vida e o sucesso de celebridades em tais mídias, o espelhamento em pessoas bem-sucedidas pode ser um exercício em vão. Caroline McHugh afirma que tal comportamento pode até ajudar na identificação de boas práticas e bons comportamentos, mas não funciona na prática. Ela afirma que o segredo é você SER TÃO BOM EM SER VOCÊ MESMO quanto as suas personas-referência são em serem elas mesmas. A individualidade é tudo que tem que ser.


Portanto, o segredo não é buscar referências para eu me espelhar, e sim buscar referências para me AUTOESTIMULAR, despertar o Eu desconhecido dentro de mim e desenvolvê-lo a partir da minha INDIVIDUALIDADE.


Enfim, eu continuo elaborando um ponto de vista sobre tudo isso e, por isso, não me aventuro a ser pragmático nesse tema, mas tenho a minha própria experiência.


PAIXÃO PELO DESCONHECIDO


A minha visão parte de um princípio simples que vale para qualquer Eu ou Eus: criar estímulos o tempo todo para viver algo novo. Isso se traduz em me abrir e me expor ao máximo de experiências possíveis, em áreas desconhecidas, que muitas vezes desafiam os meus preconceitos e conhecimento, que balançam meu status quo e que me joguem em novos caminhos e possibilidades. Ou seja, em vez de me manter fechado na minha zona de conhecimento, segurança e conforto, eu procuro me forçar para viver experiências que trazem novas rotas possíveis para minha existência, especialmente aquelas que parecem ser mais estranhas e improváveis.


Para dar lugar as novas atividades e experiências, eu tive que abandonar muitas das atividades que eu fazia e que me davam prazer e segurança, desde comportamentos, relações pessoais, lugar de moradia, hobbies, rotinas, até a própria dimensão profissional. Para despertar algo novo dentro de mim, me parecia mandatório que eu rompesse com muitas âncoras que prendiam o meu Eu conhecido, por mim e pelos outros. Isso exigiu, e ainda exige, desprendimento, abnegação, desapego, bem como curiosidade, paixão por aprender e um flerte constante com a insegurança e o inexplorado.


Caminho do Vale Europeu – Santa Catarina

Chegar neste ponto não foi fácil. Em 2020, diante do contexto de vida já narrado detalhadamente em meu blog, eu me sentia perdido. Lembro de um artigo que publiquei chamado “Em busca de um propósito”, que foi escrito em um momento crítico daquela fase turbulenta. Eu não sabia o que iria fazer da minha vida e estava certo de que eu não tinha recursos e mecanismos para encontrar uma saída. Eu estava em uma caverna escura, como escrevi no artigo “Eu e minha caverna”.


Nos meses seguintes, eu comecei a ler e a estudar filosofia. Foi algo intuitivo. Mais do que conforto e algumas respostas, a filosofia me deu luz e possibilidades. Inicialmente a filosofia me surgiu como uma tábua de salvação, mas depois ela foi se revelando muito mais poderosa, construindo linhas de pensamento e reflexão que expandiram a minha consciência, tudo calibrado pelo meu lado racional e pragmático de engenheiro.


Estabelecendo uma metáfora, a filosofia criou dentro de mim uma fenomenal caixa de ferramentas para minha revolução interior. Instrumentalizado com tais ferramentas e estimulado pela busca compulsiva de novas experiências, eu comecei a construir uma jornada de RESSIGNIFICAÇÃO DE VIDA, reposicionando prioridades, iluminando pontos obscuros em minha mente, olhando a existência de forma diferente e identificando o que efetivamente alimenta minha alma e espírito. Tudo isso representou um verdadeiro e profundo mergulho dentro de mim. Foi isso que ocorreu a partir do mesmo ano de 2020 e continuo vivendo.


Certa vez, pensando nisso tudo, idealizei uma imagem para minha vida. Uso esta visão até hoje. Imagino que a minha vida é um grande casarão, repleto de cômodos e espaços, sempre em expansão. Neste casarão há uma grande sala com muitas portas à minha disposição. Algumas destas portas me levam para novos espaços da casa, muitos ainda desconhecidos por mim. As portas estão ali, algumas mais próximas e fáceis de chegar, acessíveis, outras mais distantes, mas basta eu chegar perto e abrir qualquer uma destas portas para que eu identifique uma nova possibilidade de vida. No entanto, o número de portas existentes é limitado. Talvez chegue um dia que eu já tenha aberto todas as portas, ou seja, que eu já tenha explorado todas as possibilidades. Portanto, o grande lance, é estimular constantemente o surgimento de novas portas, ampliar o salão agregando novas portas, com novos caminhos e novas rotas de vida. Tudo ao alcance dos meus passos e braços, posso chegar perto e abrir qualquer porta, colocar a cara, dar uma olhadinha e entrar com toda vontade. E, se for o caso, posso entrar e sair.


Esta representação, carimbada em minha mente, nunca mais saiu de dentro de mim. Eu vivo o tempo todo com a imagem de CRIAR NOVAS PORTAS E DEIXÁ-LAS À MINHA DISPOSIÇÃO. Pode ser que eu nem toque nelas durante algum tempo, mas sei que estão lá, ao meu alcance, quando bem entender.


O meu casarão com muitas portas

Tudo isso parece etéreo e pouco prático. Porém é extremamente profundo e direcionador de vida, multiplicando possibilidades, ajudando na tomada de decisões, estando intimamente conectado ao meu senso de propósito e dando mais sentido para minha existência.


A minha viagem interior é uma viagem de aprendizados, muitas vezes questionando conceitos que eu considerava corretos e inabaláveis. Não é um aprendizado equivalente a aprender a usar um aplicativo ou aplicar uma metodologia. É um aprendizado em que não existe certo e errado porque é uma viagem filosófica, que como tal, é repleta de idiossincrasias, abstrações, ambiguidades e devaneios.


A minha viagem interior também é uma viagem de mudanças, de coragem de abandonar caminhos antigos para seguir por novos caminhos, de ressignificar os conceitos de liberdade e limites, de aceitar a insegurança do desconhecido, de esvaziar a minha mochila da vida para ficar mais leve e ir mais longe, de abraçar novas possibilidades, me descobrindo em outras atividades e outras áreas da vida. Enfim, apesar de parecer um contrassenso, a minha viagem interior é uma viagem de expansão e crescimento. Sou uma supernova.


Nem todo mundo entende e curte este papo. Se você tolerou este texto enfadonho e prolixo e chegou até aqui, com certeza você é um ser humano em busca de algo desconhecido, que provavelmente gosta de papos um pouco doidos, que nem eu, talvez até goste de abraçar algumas árvores de vez em quando. O fato é que tem algo dentro de você gerando incômodo e curiosidade, algo incompleto que merece ser explorado.


A necessidade de se conhecer melhor, a sensação de incompletude e a busca de sentido de vida movimentam o ser humano desde os primórdios da humanidade, sendo um tema recorrente nos estudos e devaneios de grandes filósofos de todos os tempos. Enfim, autoconhecimento e autodesenvolvimento são pilares para nossa felicidade, realização pessoal e propósito. Tudo começa com um longo e profundo mergulho interior. Eu estou certo disso! Eu estou nessa!


Farol de Santa Marta – Santa Catarina

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