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Como (não?) fazer um jingle


A história que vou contar abaixo é parcialmente verdadeira. Depois explico.

A agência sabia que aquela reunião não seria trivial. O cliente acabara de chegar na agência e todos sabiam que aquele era um cliente difícil. Era um diretor e dois gerentes. Do lado da agência também eram três pessoas, entre elas um profissional de criação e o gerente de atendimento. O objetivo da reunião era discutir o briefing para a criação de um jingle de rádio.

Logo no início da conversa, o diretor do cliente desandou a falar: “Acho que essa reunião vai ser rápida. O briefing é bem simples. Temos que falar que vendemos soluções customizadas…”

A criação da agência interrompeu: “Soluções customizadas? Num jingle de rádio? Mas ninguém vai entender o que é isso…”

“Enteeeende, entende sim”, respondeu o executivo do cliente. “Quem compra sabe o que é isso. E tem que falar que vendemos soluções customizadas em facilities…”

“Facilities?”

“E também multi-serviços integrados…”

“Não esquece de falar da otimização de resultados”, disse um dos gerentes do cliente para desespero da agência.

O outro complementou: “Tem que colocar também gestão de infraestrutura…”

O rapaz da criação coçava a cabeça enquanto o atendimento da agência pulava da cadeira: “mas isso é muito ruim para um jingle. Ninguém vai entender nada”.

O cliente continuou: “E tem colocar as duas marcas da nossa empresa, que é confiança e qualidade”. O colega dele complementou: “E a tradição? Tem que colocar também, afinal somos uma empresa muito tradicional”.

O pessoal da agência estava atônito. Um deles falou: “mas está muito complicado… e não dá para colocar tudo isso num jingle de apenas 30 segundos”.

O diretor do cliente respondeu: “Dááá… dá sim. Para isso contratamos uma agência como vocês. Um bom criativo faz isso fácil, fácil. E tem que terminar repetindo que nós vendemos soluções customizadas em facilities. Tem que reforçar isso. É nisso que nós somos bons. Aahhhh, e não pode deixar de fechar o jingle dando o número de telefone da empresa”.

Obviamente que a história acima fui eu que inventei, mas daqui prá frente não é não.

Eu ouço o jingle abaixo há anos. Acho incrível que este jingle ainda permaneça no ar, na mesma rádio e sempre no mesmo horário. Tenho ele memorizado na minha mente durante todo este tempo, mas não sei dizer se isso é positivo ou negativo. Mas tudo bem, eu não faço parte do público alvo deste anúncio. O fato é que eu não acho razoável um jingle ficar no ar durante todo esse tempo e sempre faço zapping no rádio quando ele toca, simplesmente porque não suporto mais ouvi-lo.

Me conta o que você achou do jingle.

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