Foi a terceira vez que li algo sobre reputação pessoal na web recentemente. A matéria publicada na Exame (edição 992, de 18/05/2011) que está nas bancas é interessante.
As empresas definitivamente já incorporaram a pesquisa na internet para obter informações sobre candidatos a uma vaga. Não estou falando apenas do tradicional e excelente LinkedIn, mas sim de uma mera entrada no Google com o nome do candidato. Aliás, você já tentou fazer isso com o seu nome? Pode ser interessante. Você poderá descobrir coisas boas e coisas nem tão boas, como um homônimo seu que anda fazendo farra por aí. A mesma matéria da Exame conta a história de uma modelo brasileira, agora chamada de Michele Patrício, que antes tinha o nome de Michele Vignardi, mas que, ao entrar no Google com seu nome, descobriu que havia uma quase homônima Michelli Vignardi, prostituta de luxo americana que havia ganhado notoriedade na web em função de notícias nos jornais escoceses. A matéria da revista cita detalhes da experiência negativa da modelo e os motivos de ela ter optado pelo caminho mais trabalhoso de mudar o sobrenome e adotar um novo nome artístico.
Até pouco tempo atrás, as principais (e quase únicas) referências que as empresas conseguiam obter de candidatos eram através do tradicional currículo e das referências de ex-colegas de trabalho, um modelo de pesquisa penoso e caro, não só pela ineficiência do processo, mas também porque muitas vezes as empresas tinham que recorrer a empresas de recrutamento e “hunting” de candidatos. Buscar ajuda profissional externa ainda é interessante e muitas vezes necessário; tem muita empresa boa e séria no mercado especializada nisso, mas uma nova alternativa entrou forte nesse processo: a web. E as empresas não vão à web apenas para analisar ou descobrir as especialidades técnicas de um eventual candidato. Elas buscam também descobrir o perfil de comportamento, a rede de relacionamento e a reputação da pessoa em análise.
Você é o responsável por construir sua reputação na web. Ninguém mais. Você é o que aparece no LinkedIn, no Google, no Facebook, no Twitter, nos blogs que frequenta, e por aí vai. Os seus comentários, conexões e nível de atividade são determinantes para alguém construir uma imagem de você, quer seja seu amigo ou não.
Eu não estou dizendo que você deve construir uma imagem pessoal “falsa” na web, algo que você não é, mas procure expor o seu melhor perfil, o seu lado genuíno; em outras palavras, seja autêntico. Imagine a web como uma grande festa, repleta de pessoas que você não conhece no meio de algumas outras que já são de seu relacionamento. Como você se comportaria numa festa dessa? Escancara geral ou vai aos poucos se aproximando das pessoas mais interessantes? Sai falando qualquer coisa ou procura escutar mais para conhecer melhor as pessoas? Enfim, a construção da imagem de sua personalidade numa festa depende exclusivamente de você, do seu comportamento, do que fala, como veste e se apresenta. Na web, é igualzinho, com o agravante de que a web é o mundo. Tudo que você publica e insere ali (textos, fotos e vídeos) está disponível para o mundo, inclusive para as empresas, e é aí que está o tema central desse post. É claro que você pode brincar e ironizar na web, mas saiba fazer isso no momento certo, na comunidade e no fórum adequado. Tudo tem seu tempo e lugar para ser feito, né?
Se você deseja criar uma boa imagem na web, procure expor o que tem de melhor. Se você é uma pessoa ligada às causas comunitárias (as empresas adoram isso!!), exponha isso de forma regular. Você tem um conhecimento específico ou um hobby legal? Então participe de blogs e comunidades sobre esse tema, ou melhor, faça um blog seu e comece a expor seu conhecimento, opiniões ou ideias. O meu ponto aqui é: deixe um rastro na web a respeito de suas boas causas e colaborações. Use o seu nome verdadeiro. Deixe os outros e as empresas descobrirem por elas próprias as suas preferências e capacidades. Esse é o seu melhor currículo.
Eu tenho um caso pessoal interessante e que suporta o meu argumento. Trabalhei numa grande empresa no passado onde uma área viveu um problema sério. Num determinando momento, dois funcionários foram afastados devido ao alcoolismo. Os dois casos foram tratados com muito cuidado pela empresa, mas eu senti que rolou uma preocupação interna muito grande com o assunto. A empresa, dali pra frente, passou a ficar muito mais atenta a essa questão. E, meses depois, um candidato especial para uma vaga muito importante foi preterido porque, no Orkut, ele estava conectado à comunidade “Eu bebo ceva de litro”, onde aparecia uma foto com cervejas. Ou seja, o candidato expôs na web que gosta de cerveja. A decisão da empresa pode ter sido exagerada, mas, na dúvida, mesmo considerando que tecnicamente aquele candidato era o melhor disponível, a empresa preferiu optar por outra pessoa. Enfim, esse é um caso simples, mas que ilustra como as empresas estão olhando a web.
A nova geração parece menos preocupada com isso. Essa turma é mais impulsiva, aberta e aparentemente mais despreocupada com o que “os que outros pensam”. A matéria da Exame tem um parágrafo interessante sobre isso que reproduzo a seguir.
Eric Schmidt, ex-principal do Google, já chegou a sugerir que, no futuro, as pessoas terão dois nomes durante a vida: um que dura até a adolescência, outro para a idade adulta. “Não acredito que a sociedade compreenda o que acontece quando tudo está disponível, conhecido e gravado por todo mundo o tempo todo”, disse Schmidt numa entrevista ao Wall Street Journal.
Enfim, pense nisso quando for escrever algo. Você é o que publica na web.