Texto publicado no blog Foco em Gerações.
Esta história é verdadeira e foi contada por um amigo, que é o gerente imediato do caso. Os nomes foram trocados e eu não cito a empresa por motivos óbvios.
Certo dia, Júlia, uma funcionária da geração Y com pouco mais de um ano de trabalho na empresa, abordou Luiz Carlos, diretor, pedindo para marcar um horário para uma conversa pessoal. Júlia antecipou dizendo que tinha algumas insatisfações e nenhuma queixa do seu gerente imediato, mas que uma conversa seria importante para compartilhar tais inquietudes.
Luiz Carlos era funcionário de carreira e já tinha mais de 20 anos de serviço naquela empresa. Na hierarquia organizacional, entre ele e Júlia, havia um gerente imediato que era um dos melhores de seu time. Luiz Carlos marcou a tal conversa para a semana seguinte e preparou o espírito.
A primeira ação tomada por Luiz Carlos foi conversar com o gerente. Descobriu que Júlia era um talento e uma das melhores profissionais do time, muito entusiasmada e super capacitada, sabia trabalhar em time e nunca havia demonstrado qualquer insatisfação no trabalho. O gerente vislumbrava uma excepcional carreira para Júlia na empresa. O único ponto de atenção era em relação ao seu salário, que poderia estar num patamar mais alto para uma funcionária de alta performance e potencial.
Luiz Carlos se preparou para a conversa, estava pronto para encarar uma conversa sobre salário, promoção, carreira e desenvolvimento. Tinha todos os dados dela, estava convencido de que não deveria deixá-la sair da empresa e até aceitaria buscar um aumento salarial ou uma aceleração de carreira para mantê-la na organização.
A conversa de Júlia com Luiz Carlos foi bem diferente do que ele esperava. Ela não falou sobre salário e carreira em nenhum momento. Aliás, falou sim, quando Luiz Carlos perguntou e ela disse que isso não a preocupava, apesar de comentar que achava o salário um pouco baixo. Júlia elogiou a empresa, falou bem do clima de camaradagem existente na diretoria de Luiz Carlos, elogiou o seu gerente imediato e disse gostar muito do que faz. Ela disse que tudo estava bem, mas tinha uma coisa que a preocupava tremendamente: ela não sabia qual era o compromisso da empresa com a sociedade.
Luiz Carlos ficou confuso, não entendeu muito bem a questão e pediu para Júlia evoluir mais no tema. Ela descarregou várias perguntas: por que a empresa não ajudava mais a sociedade? O que a empresa fazia para tornar o mundo um lugar melhor para se viver? Por que a empresa, com dezenas de milhares de funcionários, não usava este potencial humano para ações de cidadania? Qual era o compromisso da empresa com o meio-ambiente e o planeta?
E soltou a frase final: “eu tenho dificuldade de trabalhar numa empresa que não demonstra claramente o compromisso de ajudar a sociedade”. Ela parecia muito incomodada. tinha a sensação de que trabalhava numa empresa preocupada com os objetivos e valores empresariais, ética, porém desconectada das demandas e anseios da sociedade. Em sua opinião, como empresa grande, repleta de competências e capacidades, ela deveria estar colaborando mais com a sociedade.
Luiz Carlos estava atônito com tudo aquilo. Sua funcionária estava preocupada com algo muito além do que ele havia imaginado. Enfim, Júlia estava sentindo falta de propósito em seu trabalho e, talvez, um pouco de falta de orgulho. Faltava a ela alguma razão a mais para ir trabalhar todos os dias na empresa, quem sabe a razão de estar contribuindo para uma empresa que faz a diferença.
Luiz Carlos tratou logo de envolver Júlia nos programas de responsabilidade social da empresa. Segundo ele, havia iniciativas de cidadania interessantes. Júlia conheceu e participou de algumas. Após três meses pediu demissão. Na entrevista de desligamento com Luiz Carlos ela disse que as atividades de cidadania da empresa não eram genuínas, que ela não sentia a empresa comprometida com os programas e que, na maioria das vezes, eles apenas gastavam os incentivos fiscais oferecidos pelo governo para empresas daquele porte. E terminou dizendo para Luiz Carlos: “Não quero continuar aqui porque não vale a pena”.
Em resumo… Você é gestor? Gerente? Então trate de surpreender a geração Y ou será ela que vai surpreender você.